Nós precisamos pagar algum preço?
Você
já deve ter ouvido o seguinte jargão evangélico: “irmão(ã), você precisa pagar
o preço!”. O que isso significa? Na maioria das vezes, o que o que está sendo
dito é algo do tipo “santifique-se”, “busque mais a Deus”, “faça mais
consagrações (jejum, oração, etc) ao Senhor” ou algo parecido. Inclusive,
recentemente, a cantora gospel Damares (foto) lançou a música ‘Alto Preço’
(mais uma no rol de suas muitas heresias musicais), que diz: “eu tô pagando, eu
tô pagando, o preço pra morar no céu eu tô pagando...”.
Minha
pergunta é: é errado dizer que devemos pagar o preço no sentido espiritual?
Bem, a resposta é sim e não. Deixe-me explicar: conhecendo o conceito de graça
e suas aplicações na vida do crente, não pagamos preço algum por nada. É nisso
que o jargão, a meu ver, se torna muito perigoso, afinal, pode passar a falsa ideia
(já bem sedimentada na mente de irmãos imaturos) de que há algum mérito nosso
em fazer algo para Deus e, assim, correrem o risco de esquecer que não passamos
de servos inúteis (Lucas 17.10).
Contudo,
o jargão não é completamente errado. E para me ajudar nessa argumentação quero
tratar do conceito de ‘graça preciosa’, trabalhado por Dietrich Bonhoeffer[1] (foto) em seu livro
“Discipulado”. Na visão do autor, há dois ‘tipos’ de graça, a barata e a
preciosa. A primeira é a “inimiga mortal da nossa igreja”, é a graça sem custo,
é uma graça que encontra fácil cobertura para seus pecados dos quais o crente não
tem remorso e não deseja verdadeiramente libertar-se. Ela “justifica o pecado,
mas não o pecador”. Portanto, o lema desse tipo de graça, nas palavras de
Bonhoeffer, é: “Viva, pois, o crente como vive o mundo, coloque-se, em tudo, em
pé de igualdade com o mundo, e não se atreva – sob pena de ser acusado de
heresia entusiasta! - a ter, sob a
graça, uma vida diferente da que tinha sob o pecado!”
Em
contraste, a graça preciosa é o tesouro oculto no campo. Ela é o “evangelho que
se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta a
qual se tem que bater”. Ela condena o pecado, e justifica o pecador. Para
Bonhoeffer, essa graça é preciosa “por ter sido preciosa para Deus, por ter
custado a Deus a vida de seu filho – ‘vocês foram comprados por preço’ – e
porque não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus. A graça é
preciosa sobretudo porque Deus não achou que seu Filho fosse preço demasiado
caro para pagar pela nossa vida, antes o deu por nós.”
Existe
sim uma dimensão da vida do crente onde a graça requer de nós um esforço sem
igual. Há um preço a ser pago por ser cristão, não PARA SER cristão. O chamado
de Deus é para, depois de salvos, vivermos como Jesus viveu e se ele pagou um
alto preço, também precisaremos pagar. Me admira o comodismo de certos cristãos
que permitiram que a graça se tornasse algo tão ordinário em suas vidas. Já não
há mais cruz na vida de alguns. Me impressiono com a falta de fervor e vontade
de viver uma vida extraordinariamente entregue nas mãos do Pai. O custo do
discipulado é difícil, mas sobremodo precioso.
Minha
oração é para que eu e você mantenhamos a graça preciosa ardendo em nossos
corações. O discipulado de Jesus é um convite a vida e a morte. Viveremos sim,
mas antes morreremos.
Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e
siga-me. (Lucas
9:23)
Em
Cristo,
Thiago
Holanda.
[1] Pastor luterano que foi martirizado por Hitler durante a 2ª Guerra Mundial.
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