Nós precisamos pagar algum preço?

sábado, 5 de agosto de 2017

Nós precisamos pagar algum preço?




Você já deve ter ouvido o seguinte jargão evangélico: “irmão(ã), você precisa pagar o preço!”. O que isso significa? Na maioria das vezes, o que o que está sendo dito é algo do tipo “santifique-se”, “busque mais a Deus”, “faça mais consagrações (jejum, oração, etc) ao Senhor” ou algo parecido. Inclusive, recentemente, a cantora gospel Damares (foto) lançou a música ‘Alto Preço’ (mais uma no rol de suas muitas heresias musicais), que diz: “eu tô pagando, eu tô pagando, o preço pra morar no céu eu tô pagando...”.
Minha pergunta é: é errado dizer que devemos pagar o preço no sentido espiritual? Bem, a resposta é sim e não. Deixe-me explicar: conhecendo o conceito de graça e suas aplicações na vida do crente, não pagamos preço algum por nada. É nisso que o jargão, a meu ver, se torna muito perigoso, afinal, pode passar a falsa ideia (já bem sedimentada na mente de irmãos imaturos) de que há algum mérito nosso em fazer algo para Deus e, assim, correrem o risco de esquecer que não passamos de servos inúteis (Lucas 17.10).
Contudo, o jargão não é completamente errado. E para me ajudar nessa argumentação quero tratar do conceito de ‘graça preciosa’, trabalhado por Dietrich Bonhoeffer[1] (foto) em seu livro “Discipulado”. Na visão do autor, há dois ‘tipos’ de graça, a barata e a preciosa. A primeira é a “inimiga mortal da nossa igreja”, é a graça sem custo, é uma graça que encontra fácil cobertura para seus pecados dos quais o crente não tem remorso e não deseja verdadeiramente libertar-se. Ela “justifica o pecado, mas não o pecador”. Portanto, o lema desse tipo de graça, nas palavras de Bonhoeffer, é: “Viva, pois, o crente como vive o mundo, coloque-se, em tudo, em pé de igualdade com o mundo, e não se atreva – sob pena de ser acusado de heresia entusiasta! -  a ter, sob a graça, uma vida diferente da que tinha sob o pecado!”
Em contraste, a graça preciosa é o tesouro oculto no campo. Ela é o “evangelho que se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta a qual se tem que bater”. Ela condena o pecado, e justifica o pecador. Para Bonhoeffer, essa graça é preciosa “por ter sido preciosa para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu filho – ‘vocês foram comprados por preço’ – e porque não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus. A graça é preciosa sobretudo porque Deus não achou que seu Filho fosse preço demasiado caro para pagar pela nossa vida, antes o deu por nós.”
Existe sim uma dimensão da vida do crente onde a graça requer de nós um esforço sem igual. Há um preço a ser pago por ser cristão, não PARA SER cristão. O chamado de Deus é para, depois de salvos, vivermos como Jesus viveu e se ele pagou um alto preço, também precisaremos pagar. Me admira o comodismo de certos cristãos que permitiram que a graça se tornasse algo tão ordinário em suas vidas. Já não há mais cruz na vida de alguns. Me impressiono com a falta de fervor e vontade de viver uma vida extraordinariamente entregue nas mãos do Pai. O custo do discipulado é difícil, mas sobremodo precioso.
Minha oração é para que eu e você mantenhamos a graça preciosa ardendo em nossos corações. O discipulado de Jesus é um convite a vida e a morte. Viveremos sim, mas antes morreremos.
Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. (Lucas 9:23)
Em Cristo,
Thiago Holanda.



[1] Pastor luterano que foi martirizado por Hitler durante a 2ª Guerra Mundial.

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