sexta-feira, 26 de abril de 2024

A importância de manter bons relacionamentos


 


Daniel 1.9-14

9 Ora, Deus fez com que Daniel achasse graça e misericórdia diante do chefe dos eunucos.

10 E disse o chefe dos eunucos a Daniel: Tenho medo do meu senhor, o rei, que determinou a vossa comida e a vossa bebida; pois por que veria ele os vossos rostos mais tristes do que os dos outros jovens da vossa idade? Assim porias em perigo a minha cabeça para com o rei.

11 Então disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias:

12 Experimenta, peço-te, os teus servos dez dias, e que se nos dêem legumes a comer, e água a beber.

13 Então se examine diante de ti a nossa aparência, e a aparência dos jovens que comem a porção das iguarias do rei; e, conforme vires, procederás para com os teus servos.

14 E ele consentiu isto, e os experimentou dez dias.

A passagem acima narra um momento específico da conhecida jornada de Daniel e os seus amigos, uma história que, provavelmente, você já conhece. Quero, contudo, abordar um aspecto específico dessa história, que é a importância de manter bons relacionamentos com todos ou, como costumeiramente usado nos jargões coorporativos, um bom networking.

Daniel e o seu povo foram levados ao cativeiro não como escravos comuns condenados a trabalhos braçais pelo resto da vida. Pelo contrário, a ideia que motivou esse intercâmbio forçado foi exatamente criar uma elite de jovens hebreus preparados para difundir a “belíssima” cultura babilônica. Mesmo nesse contexto, é certo que esses jovens permaneciam como escravos e, em tese, não possuíam direito de escolha a nada.

Porém, como você sabe, eles decidiram não se contaminar com as iguarias da corte e optaram pela purificação, inclusive a alimentar. Porém, havia um obstáculo. A dieta desses jovens não era um self-service. Eles não tinham direito a mudá-la. O cardápio já estava definido e ponto final.

Porém, é aqui que algo interessante acontece. Sem entrar em detalhes, a Bíblia diz que Daniel conversou com o chefe dos eunucos e pediu que desse um “jeitinho” (não no sentido culturalmente pecaminoso da palavra) e os liberasse da dieta do rei. E o chefe dos eunucos aceitou!

Pode parecer algo simples, mas não é. O cargo de chefe dos eunucos era de confiança e certamente o homem que o ocupava não iria arriscar, com algo tão “simples”, desobedecer ao rei e ser condenado a traição e, quem sabe, a morte. Era, simplesmente, perder tudo por conta do pedido de um jovem desconhecido vindo de uma terra distante. Quem, em sã consciência, atenderia esse favor?

Aqui entra nossa reflexão: sei que Deus agiu no coração do chefe dos eunucos inclinando-o a aceitar o pedido de Daniel. Disso não tenho dúvidas. Mas também acredito firmemente que esse milagre foi operacionalizado por meio de um bom relacionamento que Daniel e os seus amigos devem ter nutrido com todos os membros da corte pagã da Babilônia. Relacionamento esse que abriu as portas para que o pedido fosse atendido.

Aprendemos muito com essa lição. Será que, nos ambientes que frequentamos, nós temos um relacionamento saudável com os não cristãos que nos cercam? Conseguimos manter esse networking?

Aqui eu interrompo a reflexão para adicionar dois tipos de comportamento nocivos: o isolacionismo, que é uma postura muito comum em “crentes” legalistas, que acreditam firmemente serem parte de uma categoria especial de pessoas santas, e olham com superioridade para qualquer outra pessoas que não julgam ser parte do mesmo círculo. Essa postura, além de intoxicar qualquer relacionamento, ainda afasta as pessoas de Cristo e mancha o evangelho de forma profunda. O outro comportamento é o mundanismo, que é exatamente o extremo oposto, comumente praticado por “crentes” que vivem um evangelho frouxo, marcado pela permissividade e uma incorreta interpretação da graça salvífica.

Nós devemos buscar um equilíbrio saudável entre esses dois comportamentos: viver no mundo sem ser parte do mundo e, com isso, manter um bom relacionamento de gentileza e misericórdia com todos aqueles que ainda não foram alcançados pela graça de Cristo.

Que tal, na sua rotina de trabalho, você importar-se mais com as necessidades dos colegas e, eventualmente, oferecer ajuda? Por que não praticar a escuta ativa e se interessar pelo que as pessoas conversam?

Existem inúmeras maneiras, não difíceis, de manter bons relacionamentos com pessoas que não compartilham a mesma fé que nós e devemos cultivar isso diariamente, não apenas pensando no interesse de um dia buscar benefício, mas para manter canais de comunicação e diálogo abertos. Canais esses que, creio eu, serão usados para compartilhar nossa mensagem mais preciosa: a salvação em Jesus.

Eu encorajo você a manter relacionamentos agradáveis onde você estiver: faculdade, trabalho, vizinhança, etc...assim,  as pessoas olharão para você e verão o brilho de Cristo na sua vida.

Deus te abençoe!

 

Em Cristo,

Thiago Holanda

26 de Abril de 2024.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Os 3 catalisadores de Deus


 

Comecei a ler o livro DISCIPLINASESPIRITUAIS PARA A VIDA CRISTÃ, de Donald S. Whitney. Há muito tempo eu desejava ler esta obra, mas não tinha a disciplina necessária para começar (irônico, não é mesmo?). Decidi, então, dar início a esse empreendimento e, já no primeiro capítulo, fui impactado por muitas verdades que me fez desejar tê-lo lido há muito mais tempo.

Pois bem, deixando esse “spoiler” de lado, quero compartilhar uma lição muito simples e enriquecedora que encontrei no capítulo 1, onde os autor fala de 3 catalisadores usados por Deus.

Antes de continuar, o que seria um catalisador?

Dando um “google”, encontrei que se trata de uma substância que pode ser adicionada a uma reação para aumentar a sua velocidade sem ser consumida durante esse processo. O autor usa esse termo para compartilhar a ideia de que Deus possui formas específicas e universais usadas para trabalhar em nós e mudar nossa essência. São “substâncias” que será usadas por Ele indefinidamente enquanto habitarmos esse mundo imperfeito e formos seres também imperfeitos.

Dos 3 catalisadores, dois não podem ser controlados por nós (não na plenitude), o outro pode. Vamos descobrir quais são?

O primeiro são as PESSOAS. Sim, Deus usa pessoas para nos moldar e nos tornar mais semelhantes a Ele. Pode ser alguém enviado para cuidar especialmente de você e te confortar em momentos de luta, como também pode ser aquele indivíduo chato que está o tempo todo ao seu lado testando sua paciência e te fazendo depender do Espírito para não perder a postura. Provérbios 27.17 diz que um homem afia outro homem. Possivelmente essa seja uma das maiores graças de ser igreja, afinal, estamos em um ambiente repleto de pecadores, como nós, tentando viver de forma semelhante a Jesus. Nesse processo, temos de lidar com imperfeições e, assim, somos afiados!

O segundo catalisador são as CIRCUNSTÂNCIAS. As muitas experiências da vida nos levam, se vivermos em dependência, para mais perto de Cristo, sejam elas boas ou ruins. Essa lição é fácil de explicar, mas muito difícil de viver. É muito bom aprender a agradecer quando uma porta se abre e as coisas dão certo (ainda assim tem gente que falha nisso). Difícil, é aprender a CONFIAR quando a porta se fecha e precisamos assistir, de camarote, nossas expectativas e sonhos afundarem no mar da desilusão. Porém, a Bíblia deixa bem claro, Deus usa os momentos bons e os ruins com o propósito de nos moldar. Romanos 8.28 nos ensina que “...todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. Que Deus nos encha de graça e sabedoria para enxergarmos isso.

O terceiro catalisador são as DISCIPLINAS ESPIRITUAIS. Aqui, nós temos uma maior autonomia. Não posso acordar de manhã e escolher todas as circunstâncias a qual serei exposto e nem todas as pessoas que cruzarão o meu caminho, mas posso ter autonomia para dizer a mim mesmo: “hoje vou meditar na Bíblia”; ou “hoje usarei o meu dia para jejuar”. Inclusive, foi pensando nesse terceiro catalisador que o autor decidiu escrever o livro.

Esses três catalisadores são continuamente inseridos na história que Deus está construindo em nossas vidas. Porém, nem sempre temos a oportunidade de enxergá-los ou entende-los. Mesmo assim, estão diante de nós!

Que possamos aprender a viver confiando plenamente no que Deus está fazendo em nós!

Em Cristo,

Thiago Holanda,

25 de Março de 2024.


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Os esquecidos pelo caminho



 

Recentemente encontrei uma colega cujo pai trabalhou como pastor de uma igreja local por muitos anos. A igreja dele era vinculada a uma denominação muito grande, com diversas outras igrejas coirmãs, todas vinculadas a uma igreja sede. Ao questionar como estava seu pai, fiquei surpreso com a resposta: “papai está afastado há anos, deixou o pastorado e hoje já não frequenta mais nenhuma igreja”.

Constrangido pela resposta, tentei mudar o foco da conversa, mas ela continuou: “fico triste pelo papai, mas também fico triste pela denominação. Nenhum dos outros pastores, nem mesmo os que exerciam liderança sobre ele, jamais se importaram de saber como ele estava. Nem mesmo uma ligação telefônica”.

Histórias como essa se repetem em inúmeras outras comunidades cristãs ao redor do mundo. Pessoas que passam pelas nossas igrejas, às vezes vivem intensamente a comunhão dos santos (as vezes não), trabalham arduamente em prol do reino, mas, em determinado momento, por circunstâncias diversas, se afastam da igreja e parece que ninguém se importa com isso. São os esquecidos pelo caminho. Essa indiferença, além de grotesca e completamente distante do amor de Cristo, tem criado um exército de ressentidos com a igreja.

Não estou aqui tentando atenuar a responsabilidade dessas pessoas de deixar a igreja ou virar as costas para a fé. Não é isso. Cada um deve vigiar e permanecer de pé (1 Coríntios 10.12). Todos prestaremos contas de nossos atos e responderemos diante de Deus, sem ter o “privilégio” de apontar dedos para ninguém.

Contudo, como igreja, precisamos fazer uma “mea culpa” e entender que falhamos muito no papel de dar atenção aos que estão fraquejando. Convido você a refletir: “quantas vezes você já reparou que determinado(a) irmão(ã) tem faltado os últimos cultos e decidiu ligar para saber como a pessoa estava?” ou “quantas vezes você se juntou a um grupo de irmãos para visitar alguém que deixou de ir à igreja?”.

Parece que hoje é muito mais fácil envolver-se com a organização do reino do que propriamente com o reino em si. De que adianta sermos uma igreja repleta de programações, com um louvor impecável, um lindo ministério de teatro, e um culto festivo, se, quando um de nós se perde, não há ninguém suficientemente sensível para se importar?

Inúmeros pastores e líderes vivem cegos pelo desejo de ver suas igrejas crescerem, renderem mais dízimos, se tornarem mais dinâmicas, etc...mas eles enxergam a igreja como mera coletividade, esquecendo-se que ela é formada por indivíduos que enfrentam, cada um, suas próprias guerras e, por isso, precisam do apoio pastoral para sobreviverem.

Conheço um amigo que passou muitos anos ocupando um cargo de liderança em sua igreja local. Tentou dar o melhor de si e cuidar do rebanho que lhe foi confiado. Devido a alguns problemas de convivência, se viu obrigado a deixar a liderança e mudar de igreja. Durante o processo de transição, nenhum dos seus pastores jamais o telefonou para saber: “está tudo bem”? Esse amigo ficou ressentido e desabafou: “Poxa, passei tanto tempo cuidando dos outros, mas quando chegou a minha vez, cadê minha ajuda?”. Pela graça de Deus, esse amigo permanece firme na fé e a indiferença da igreja não o matou espiritualmente.

Porém, nem sempre os finais são felizes assim, e não são poucos os ressentidos com uma igreja local que demonstrou não se importar. Em Colossenses 3.13, Paulo diz: “suportando-vos uns aos outros”. O termo usado por Paulo faz referência ao ato de “ser um suporte” para outras pessoas. Ou seja, se estou fraco alguém será meu suporte no momento de dificuldade. Um dia, chegará o momento em que eu “devolverei o favor” e serei o suporte de outra pessoa. E assim caminha o povo de Deus.

A igreja é o único hospital onde todos somos médicos e pacientes o tempo inteiro.

 

Em Cristo,

Thiago Holanda

27/02/2024

segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Uma carta para 2023


 


Prezado 2023,

Você está terminando e dando seus últimos suspiros. Permita-me ser muito sincero e te dizer: que bom que você está acabando! Sei que isso pode parecer meio cruel, mas é sincero. Você não foi um ano fácil. Se eu precisasse te resumir em poucas palavras, diria que você foi o ano que testou meus limites físicos, emocionais, psicológicos e até espirituais. Você doeu muito também, trouxe muitas perdas e algumas derrotas. Mas como minha sábia mãe sempre me ensinou: “Jesus nos ensina com amor, mas as vezes também com a dor”.  E se tem algo que você fez bem, meu querido 2023, foi ensinar.

E para ter certeza de que não esquecerei tudo que aconteceu, fiz questão de te escrever essa carta recapitulando as suas principais lições.

Você, 2023, me ensinou que é preciso entender que eu tenho limites que precisam ser obedecidos. Precisei aprender que meu dia, assim como de todas as outras pessoas, tem apenas 24 horas, e que não posso tentar fazer tudo que quero dentro desse período de tempo, pois nem meu corpo, nem minha mente suportarão carregar todos os fardos que eu acho que consigo. Aprendi que não posso me dar ao luxo de bancar o salvador da pátria e resolver todos os problemas que aparecem diante de mim e, se eu tentar fazer isso, estarei apenas buscando agradar e me tornar aceitável diante das pessoas. Mas eu não preciso disso, pois, em Cristo, já me tornei aceitável diante daquele que verdadeiramente importa: DEUS.

Você também me ensinou que nem sempre o meu caráter vai encaixar na dentro da minha reputação, pois eu sempre corro o risco de me tornar vilão dentro de uma história mal contada, e que não importa tanto o que terceiros (que só me conhecem superficialmente) pensam a respeito de mim, pois o julgamento deles sempre será marcado pela ignorância ou preconceito, mas o que de fato vale é o que Deus pensa a meu respeito. Assim, eu devo cuidar apenas das minhas responsabilidades e deixar que Deus se preocupe com minha reputação.

Por fim, querido 2023, você me ensinou que eu preciso encerrar alguns ciclos, antes que eles encerrem comigo, e que nem sempre a felicidade estará no mesmo lugar onde eu a perdi. Sim, ciclos chegam ao fim e, por mais que a gente não queira, alguns capítulos devem se encerrar, para que novas histórias possam ter início. Isso nunca é fácil, pois sair da zona de conforto é um desafio e nem sempre estamos prontos para o que virá. Porém, como disse C.S Lewis: “existem coisas melhores diante de nós do que qualquer outra que deixamos para trás”.

Portanto, 2023, mesmo tendo sido um pouco duro com você, sei que Deus te usou muito para me moldar e que, através dos seus ensinamentos, me tornarei um ser humano melhor. Hoje posso estar sendo chato com você, mas sei que em um futuro não muito distante, olharei para você e agradecerei a Deus por você ter existido.


domingo, 8 de outubro de 2023

Por que tantas lideranças cristãs estão emocionalmente doentes?


 

Nos últimos anos tenho percebido um acontecimento que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum: crentes saindo das igrejas feridos por lideranças emocionalmente doentes. Líderes que, por ciúmes, incredulidade, amor ao poder ou qualquer outra razão fútil, têm machucado o rebanho do Senhor e ajudado a criar um exército de ressentidos com a igreja.

Já ouvi muitos relatos de amigos que viveram, ou conhecem quem viveu, uma situação de abuso emocional oriunda de uma liderança religiosa. Esse tipo de ferida é uma das mais difíceis de cicatrizar, já que ela nasce dentro de um ambiente que supostamente deveria nutrir amor e cuidado. Um líder cristão é um agente comissionado por Deus para cuidar do rebanho aqui na terra enquanto o Supremo Pastor não retorna, e quando esse cuidado dá lugar ao abuso, dores muito profundas são criadas.

Por que isso acontece? É difícil responder essa pergunta, e talvez sejam necessárias outras opiniões de pessoas mais experientes e maduras que eu. Contudo, recentemente ouvi um pequeno trecho de uma entrevista com um pastor americano (infelizmente, não memorizei o nome e nem o link para recomendar) que afirmava algo muito interessante:

“Liderar”, dizia ele, “é um verbo e não um substantivo. Isso significa que liderar é algo que você faz, mas que não quem você é. Então quem você é? Você é FILHO, e isso sim é um substantivo. Talvez o substantivo mais importante de todos.”

Achei essa abordagem fenomenal. Liderar é algo que fazemos para Deus, mas não é quem SOMOS em Deus. Somos filhos do seu amor. Salvos pela sua eterna graça e perdoados pela sua santa misericórdia. Essa é nossa real identidade.

Contudo, me parece que inúmeros líderes, esqueceram-se disso e hoje incorporam dentro de si um verbo que não tem função de definir quem eles são. “Deus está mais interessado em quem você é, do que no que você faz”, é o que diz Hernandes Dias Lopes. Quando, então, assumimos uma falsa identidade, perdemos o padrão de Deus para nossas vidas e, inevitavelmente, erraremos o alvo.

Não é fácil rastrear a origem disso, mas suspeito que tem a ver com uma falta de prestação de contas. É comum encontrarmos líderes que “reinam” absolutos em suas congregações, sem prestar contas de suas vidas espirituais a ninguém, colocando a si próprios em um pedestal inatingível. Não aceitam confrontação e nem mesmo nenhum tipo de questionamento a respeito da sua “super-santidade”. Supostamente cuidam do rebanho, mas não se permitem ser cuidados.

Essa falta de prestação de contas é extremamente perigosa para a igreja, pois todos nós, independente de nossas posições no reino, somos sujeitos a falha. Em todo o tempo somos desafiados e corrigir a nossa vida diante de Deus.

Um exemplo bíblico válido é o de Saul. Note que o primeiro rei de Israel foi escolhido pelo próprio Deus! É fato que Deus aconselhara o povo a não escolher um rei, mas diante da teimosia de Israel, Deus escolhe Saul. O início da jornada do primeiro rei de Israel foi muito linda. Ele foi escolhido por meio do profeta Samuel. Foi ungido e recebeu um novo coração. Profetizou diante do povo. Ele não começou com o pé esquerdo, pelo contrário, a sua jornada começou muito bem!

Então, o que aconteceu para que tudo desse errado?

Entendo que em algum momento Saul perdeu a noção da sua identidade e isso se destaca em 1 Samuel 13:8-14, quando ele, ao enfrentar os filisteus, “avança o sinal” e faz algo que jamais poderia ter feito: ofereceu holocausto, contrariando diretamente a lei de Deus. A história nos conta que a motivação de Saul era infantil: ele viu o povo se dispersando em meio a uma batalha difícil e, sem paciência para esperar Samuel, oferece sacrifícios como forma de manter o povo unido.

Note que o grande pecado de Saul aqui foi a incredulidade. Ele havia sido escolhido sobrenaturalmente por Deus. Foi miraculosamente transformado em um novo homem e já havia vencido outras batalhas anteriormente. Porém, ele não se lembrou de nada disso no momento da ansiedade e esqueceu-se completamente de Deus. Decidiu basear-se em seus próprios méritos e assumir um papel que a lei de Deus não permitia.

Acredito que em algum momento Saul pode ter pensado: “Poxa, mas eu sou O REI. Qual o problema nisso? Se eu sou o Rei, eu posso o que eu quiser, para que tanta cerimônia?”. Saul tornou-se um líder cego e embriagado pela sua própria soberba. Acreditou que, por conta da sua posição, poderia submeter a lei do Senhor aos seus caprichos e pecou. Ele esqueceu que REINAR era o que Ele fazia, mas que de fato ele não era o rei. Israel tinha outro Rei. Na verdade, Saul era apenas um servo.

Esquecer-se da sua real identidade foi a maior falha já cometida por Saul e ele pagou um preço caro por isso. Nos versículos 13 e 14, Samuel diz:

“Procedeste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre; Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.”

Um líder jamais pode esquecer sua real identidade de filho. Se esquecermos, cairemos em pecado e causaremos desgraça não apenas a nós mesmos, mas ao povo santo do Senhor.

Se você é um líder e está lendo esse texto, CUIDADO! Não permita que a liderança o deixe cego e sem rumo. Lembre-se que, acima de qualquer outra coisa, você é filho(a) do verdadeiro Rei. Você pode até estar pastoreando o povo de Deus, mas existe um verdadeiro pastor que cuida do seu rebanho, e Ele é Jesus.

Se, por acaso, você é alguém que foi ferido por uma liderança tóxica, saiba que Cristo viu o que você passou e sofreu essa injustiça junto a você. Se doeu em você, doeu muito mais Nele. Há cura para o seu coração ressentido e você não deve culpar a igreja do Senhor por causa de alguns maus representantes. Ore e peça a Deus que envie alguém para sua vida que seja capaz de transmitir, com muito cuidado, o verdadeiro amor de Cristo.

Oro para que esse texto encontre morada em corações que precisam entender que apenas em Cristo temos a nossa verdadeira identidade.

 

Deus te abençoe.

 

Em Cristo,

Thiago Holanda – 08/10/2023.


sábado, 7 de outubro de 2023

Tristes diante dos reis e do Rei



 “¹ e eu peguei o vinho e o dei ao rei; porém eu nunca estivera triste diante dele.” (Neemias 2:1)

Esse pequeno trecho bíblico, logo no início da bela história de Neemias, traz lições preciosas para nós a respeito da tristeza de um crente. Se você conhece a história de Neemias, sabe do homem ousado que ele foi, assumindo, para si, um encargo que certamente estava muito além das suas capacidade, mas que a fé em Deus tornou possível realizar.

A história começa com Neemias desempenhando sua função diante de Artaxerxes. Porém, aquele dia estava diferente dos outros, pois Neemias não foi capaz de esconder a tristeza que havia em seu coração diante da lamentável situação do seu povo (Mateus 12:34), e essa tristeza deve ter sido tanta que ele não foi capaz de escondê-la do rei. Ao ser questionado sobre o porquê desse semblante, Neemias se encheu de temor.

O comentário de John MacArthur a respeito desse versículo diz que os reis de antigamente não aceitavam semblantes triste diante de si, e tomavam isso como uma ofensa. Neemias temeu, pois tinha receio de uma punição por parte do rei. Felizmente, Artaxerxes reagiu de maneira compassiva e ouviu atentamente o clamor de Neemias...e, não apenas ouviu, mas, movido pelo poder de Deus, foi levado a intervir em favor do povo escolhido.

Aqui residem três belas lições. A primeira é saber que não importa se nós não pudermos demonstrar nossa tristeza e angústias diante dos “reis” humanos. Os reis humanos, cheios de si próprios, podem não aceitar a manifestação de um coração dolorido, mas o Rei perfeito e celestial jamais rejeitará a oração sincera de um coração em prantos. Podemos ser julgados ou punidos por aqueles que recusam a condição do nosso coração, mas jamais seremos rejeitados pelo Rei de toda terra. Pelo contrário, é na tristeza que Ele se faz ainda mais presente em nossa história.

A segunda lição nos ensina algo muito precioso: Deus move o coração de quem Ele quiser para tornar real seu desígnio nessa terra. Artaxerxes não era um rei temente ao Senhor, mas isso não impediu que o Rei celestial movesse o seu coração como um ribeiro de águas (Provérbios 21.1).

A terceira lição nos ensina que a tristeza é parte da vida cristã, mas não deveria ser a rotina de um servo fiel. Sim, nós sempre teremos motivos para lamentar nesta vida. Seja a perda de um ente querido, a demissão de um emprego, uma doença grave ou até mesmo a distância do Senhor...tudo isso podem e até devem ser motivo para o lamento. Porém, a vida do cristão é, acima de tudo, marcada pela alegria da presença de Deus. Neemias não estava na sua terra, fazia parte de um povo em cativeiro. Ele estava longe do seu povo e dos seus parentes. Porém, a vida dele, certamente, era marcada pela alegria, afinal, no dia que ele não demonstrou estar bem, isso logo chamou a atenção de ninguém mais, ninguém menos, do que o próprio rei.

Como está sua vida em Jesus? Você é marcado pela contínua alegria ou tristeza em sua vida? Será que, a despeito das difíceis circunstâncias, você mantém a esperança no Deus de Israel?

Mesmo que as injustiças desse mundo atinjam você, e destrocem seu coração, saiba que você tem a liberdade de chegar diante do Rei celestial e abrir o seu coração em sinceridade diante Dele. O Senhor ouvirá o seu clamor e moverá, se necessário, até o coração dos incrédulos para intervir na sua história.

Creia!

Em Cristo,

Thiago Holanda – 07 de outubro de 2023.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Sobre caixas e realidades



Ao longo da vida, a opinião das pessoas nos coloca dentro de “caixas” onde, na realidade, não pertencemos. Somos julgados injusta ou apressadamente por pessoas que, se olhassem melhor, teriam uma percepção diferente da gente. 

As vezes somos forçados a entrar em caixas do tipo “nossa, como ele é chato”, “eita, como ela é antipática”, “olha, como ele é mecânico”, “caramba, ela é se acha demais”, “eita, como ele é problemático”…e assim vai. 

As pessoas formam opiniões superficiais e injustas ao nosso respeito e colocam um ponto final, sem nos dar chance para provar nossa real essência.

Para alguns, isso não chega a ser um problema, pois simplesmente não se importam. Contudo, para a maioria esmagadora das pessoas, isso dói. A opinião injusta e as vezes maldosa que os outros formam a nosso respeito nos deixam tristes, pois muitas vezes não corresponde ao que de fato somos. 

Entendo que preocupar-se com isso é normal, e até bom em certa medida. O problema surge quando nós começamos a acreditar que realmente pertencemos àquela caixa errada que uma outra pessoa nos colocou…quando começamos a acreditar que realmente somos aquilo que os outros estão caricaturando ao nosso respeito. Ou seja, ao invés de me esforçar para ser e parecer algo diferente, eu me resigno e passo a aceitar essa falsa indenidade.

Esse é um problema difícil de lidar. Como sair dessas caixas? Ou então, como não me tornar prisioneiro delas? 

Penso que firmar-se em Cristo é a melhor maneira de entender minha real indenidade e propósitos. Cristo não nos aprisiona em caixas. Pelo contrário. Na cruz, ele rasgou todo falso julgamento ao nosso respeito, nos tirando de dentro da pior caixa de todas, aquela que estava escrito: PECADOR(A).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Jesus e os conflitos desnecessários.


 

O encontro com a mulher samaritana é um dos textos bíblicos mais valiosos e utilizados dentro das nossas igrejas. Costumamos enfatizar a belíssima história de conversão dessa mulher, e do povo que está em sua cidade. Porém, a Bíblia é riquíssima e possui lições valiosas que, às vezes, passam despercebidas. Gostaria de, através desse texto, enfatizar um precioso ensinamento de Jesus no capítulo 4 de João, antes do encontro de Cristo com a Samaritana.

Logo no verso 1, João diz que Jesus decide deixar a Judeia porque ficou sabendo que os fariseus descobriram que ele batizava mais discípulos que João Batista. Por que Cristo toma essa decisão? O comentarista bíblico F.F Bruce, no livro “João:introdução e comentário”, afirma que os fariseus não gostavam dos ministérios de Jesus e João Batista e os viam com maus olhos. Ao saberem que havia um certo ressentimento mútuo entre os discípulos dos dois grupos (fato comprovado pelo final do capítulo 3 do mesmo evangelho), os fariseus poderiam se utilizar disso para fomentar uma desavença e prejudicar a expansão das boas novas. Cristo, então, reconhecendo esse perigo decide deixar a Judeia para esperar a “poeira baixar”, evitando uma briga entre os seus seguidores e os de Batista.

Que lição valiosa! Cristo é o próprio Deus encarnado que desceu do seu trono de glória para habitar entre os homens, e o próprio João Batista já havia reconhecido que “Ele deve crescer” (João 3.30). Porém, mesmo assim, Jesus decide abdicar de sua grandeza para fugir de um conflito.

Em um mundo repleto de egos inflados, orgulhos distorcidos e vaidades bobas, ter a capacidade de renunciar uma posição de honra e se retirar em prol da paz é um dos maiores exemplos de humildade e sabedoria. Quantas vezes não temos nossa honra atacada ou nosso ego machucado por pessoas que buscam, tão somente, diminuir nossa importância? O que faremos diante dessas situações?

O normal, em um mundo contaminado pelo pecado, é o revanchismo, cuja lógica é: “se fui atacado, vou atacar de volta” e, assim, começam as brigas de egos que são tão presentes em nossas igrejas, empresas e quaisquer outros tipos de organizações. Jesus, por outro lado, nos ensina que existe algo que é infinitamente mais importante do que nosso ego inflamado: o crescimento do Reino de Deus.

Cristo poderia ter imposto sua autoridade divina e acabar de vez com essa “competição”? Sim, com certeza. Porém, Ele sabia que João Batista era um mensageiro importante dentro do plano de salvação do Pai e que, na verdade, seus ministérios não eram concorrentes, mas complementares, e isso é uma lição valiosa.

Dentro das nossas igrejas encontramos muitas brigas por egos, lutas por cargos/funções...gente que se intriga apenas pelo bobo privilégio de segurar o microfone por mais tempo que os outros. Irmãos que enxergam no ministério dos outros uma ameaça, quando, na verdade, deveriam enxergar como um apoio.

Somos concorrentes uns dos outros? NÃO, definitivamente não! Somos complementares! Ou seja, o trabalho desenvolvido por terceiros, dentro do reino de Deus, ajuda nos resultados que nós desenvolvemos, ainda que esses outros acabem recebendo maior atenção ou “honrarias”.

Se, por acaso, você perceber que ciúmes e inveja estão começando a criar ninhos em você, ore e peça a Deus que tire isso do seu coração. Clame ao senhor e peça a Ele visão espiritual e sabedoria para entender que as honrarias terrenas nada valem diante das honras que receberemos das próprias mãos de Jesus no dia que o encontrarmos na glória celestial.

É difícil? Sim, bastante. Lutar contra nossa própria natureza pecaminosa é a maior luta que enfrentamos nessa terra, afinal, nosso maior inimigo nessa batalha somos nós mesmos (Jeremias 17.9). Porém, o Consolador foi nos dado para nos ajudar a vencer e por mais que, em algum momento, nos falte visão real do reino de Deus, o Espírito Santo nos coloca de volta nos eixos e nos faz entender que o nosso orgulho de nada vale.

Que Cristo ajude possa nos ajudar a entender isso e, assim, fujamos de conflitos desnecessários.

 

Thiago Holanda,

14 de fevereiro de 2023.


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