A vontade de Jesus: uma meditação sobre João 17. 24.
Uma
meditação sobre João 17. 24
“Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a
minha glória, a glória que me deste porque me amaste antes da criação do mundo.”
Vontade.
Essa é uma palavra que expressa muito bem um sentimento – se assim posso dizer
– que está arraigado constantemente em nosso coração. Em todo o tempo, hora,
minuto e segundo temos vontade.
Muitas delas boas, outras, porém, ruins, senão dizer, malignas. Acredito que a
melhor forma de expressar uma vontade é falando dela a outra pessoa, ou seja,
externando-a. Queremos compartilhá-la com outra pessoa, em especial com nossos
amigos mais íntimos. Não foi diferente com Jesus. Ele expressou sua vontade da
melhor forma a seu Pai, o Deus do céu. E o fazia muito bem. O texto acima
refere-se a um momento da vida de Jesus quando conversava com seu Pai na
presença de seus discípulos, momentos antes de ser crucificado. Ele expressa
sua vontade numa oração, numa conversa sincera e profunda com Deus. Ele diz,
parafraseando: “Pai, se desejo algo, é que aqueles que tu me deste, estejam
sempre comigo para que vejam a minha glória, que me deste desde a fundação do
mundo por conta de nosso amor um pelo outro”. Que oração! Que palavras! Jesus
sabia muito bem como orar. Não orava de forma fraca e com palavras vazias como
muitos de nós fazemos. Ele sabia que Deus estava ali o escutando.
Os que me deste
Jesus
se refere, primeiramente, na oração, a indivíduos, os quais Deus havia dado a
ele. Podemos traduzir isso num nome: Eleição.
Essa doutrina do cristianismo diz que Deus, na eternidade, escolheu pessoas
que seriam salvos por Ele e pelos quais Cristo derramaria seu sangue. Não deve
haver, de nossa parte, nenhuma resistência a essa doutrina, já que ela está
espalhada por toda a Bíblia.[1]
Jesus Cristo, na mesma oração, pediu a Deus: “Não rogo somente por estes, mas
também por aqueles que vierem a crer em mim...” (verso 20). É nítido que Jesus
orou não somente pelos Dozes, mas por todos os crentes em todo o mundo, antes
mesmo de eles existirem. Em uma das primeiras vezes que parei para meditar
nesta passagem pensei: “Fomos alvos de uma oração.”. Deus escolheu seus filhos,
sua própria família e Jesus, seu Filho, orou pelos mesmos. Então, se você é um
crente hoje, entenda: “Você foi alvo de uma oração, a oração da pessoa mais
importante do Universo e essa é uma das maiores razões de sua fé estar em
Deus”. Portanto, Deus determinou os que seriam salvos e os deu a seu Filho para
que este não os perdesse, mas os guardasse. A palavra-chave aqui seria
“preservação.” Eis o começo do que seria o “céu”: “estar com Cristo”. Vale
acrescentar que Deus não somente deu seus filhos a Jesus, mas a glória também.
“...os que me deste... a glória que me
deste”. Há uma incrível relação nesse texto entre o
Pai e o Filho, o Pai presenteando o filho: com os eleitos e com glória
(eterna), tudo isso porque “me amaste
antes”. Esse texto informa-nos de que forma o Pai honra seu
Filho.
Estejam comigo onde
estou
Jesus não estará sozinho no céu, mas com
todos os filhos de Deus (Heb. 2. 13). Acredite, haverá uma multidão nos céus.
Nem todos serão salvos, mas não serão poucos os salvos. Essa cena é incrível se
você se esforçar por imaginá-la: Deus, na eternidade, dando seus filhos – que
zombariam dele, o ultrajariam, blasfemariam contra ele – a Jesus Cristo. Ele os
transforma e eles são novas criaturas, agora glorificando-O onde Jesus está.
Isso é realmente incrível! Quem ousaria tirá-los de suas mãos? Eles estão nas
mãos de Deus também. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço,
e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém
as poderá arrancar da minha mão. Meu Pai, que as deu para mim, é maior do que
todos; ninguém as pode arrancar da mão de meu Pai.” (Jo 10. 27 – 29). Se você
está nas mãos do Filho, está nas mãos do Pai e nada nem ninguém poderá tirá-lo
delas, pois elas são fortes o suficiente para não somente suportá-lo, mas
segurá-lo para sempre. E nada poderá separá-lo do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus, nosso Senhor, nem mesmo o pecado (Rom. 8. 39).
Para que vejam a minha glória
Agora, chegamos, no que eu chamaria, o clímax da
oração. A parte mais importante e exultante das palavras de Jesus. A tradução
de Bíblia que pus acima é a NVI, mas prefiro a Almeida Revista e Atualizada
(ARA) que trará “para que vejam” em vez de “e vejam” (NVI). Isso
mexe em algo? Sim. Há certa diferença em eu dizer que quero beber leite e ficar forte, do que dizer que quero
beber leite para que fique forte. Há
um objetivo na segunda frase. Então, Jesus ora por seus discípulos e pede a
Deus que eles estejam sempre com Ele para
que vejam sua glória. Que oração mais ousada! Ao ler isso, pensei: “o
propósito máximo de eu estar com Cristo é para ver a sua glória?!”. Que
supremo! Jesus é o Rei dos reis e Senhor dos Senhores, de fato. Ele me quer
para que eu veja sua glória. “Isso não seria egoísmo de sua parte? Me querer
somente para ver sua glória?” Não,
não é egoísmo, mas felicidade: “Bem-aventurados
os puros de coração, pois eles verão a
Deus.” (Mt 5. 8) (itálico meu). Aqueles que são puros de coração são
extremamente felizes, pois verão a Deus. Portanto, eis o que é o céu: “estar
com Cristo para ver sua glória”. O livro de João está repleto da glória de
Deus. João gostava disso.
·
Jesus fez
seus milagres para manifestar sua glória: “Com este, deu Jesus princípio a
seus sinais em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória e os seus discípulos
creram nele. (2. 11)
·
Jesus
buscou a glória de seu Pai: “... o que procura a glória de
quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça”. (7. 18)
·
Doenças e
até a morte existem para a glória de Deus e de seu Filho: “Esta
enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho
de Deus seja por ela glorificado. (11. 4)
·
Devemos
amar a glória de Deus, não a dos homens: “...porque amaram mais a glória
dos homens do que a glória de Deus.” (12. 43)
·
Jesus
disse que Deus responderia orações para sua glória: “Tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no
Filho.” (14. 13)
·
Damos
muito fruto para a glória de Deus: “Nisto é glorificado o meu Pai,
em que deis muito fruto”. (15. 8)
·
O
Espírito Santo glorifica o Filho de Deus: “Ele me glorificará, porque há
de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. (16. 14)
·
Jesus
suportou sofrimentos para a glória de Deus: “Pai, é chegada a hora; glorifica
a teu Filho, para que o Filho te glorifique a Ti.” (17. 1)
Portanto, está claro como água que o Pai quer ser
glorificado no Filho e o Filho, no Pai, para a glória mútua e máxima deles.
Essa mesma glória veremos no céu. Veremos, contemplaremos e admiraremos a
glória de Deus. Esse deve ser nosso propósito de vida. Nesse mundo somos
tentados a fixar nosso olhar no que é visível e temporário. Vemos problemas,
distrações, violência e morte que esse mundo, a cada segundo, traz. Mas se
tivéssemos um alvo de vida maior, contemplar a glória de Deus e vive-la,
seríamos mais felizes e menos dependentes deste mundo caído. Um dos versículos
mais fortes sobre a glória de Deus em sua vinda, tanto na destruição dos ímpios
como na glória dos filhos de Deus é 2Tessalonicenses 1. 9, 10: “Eles sofrerão a
pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do
seu poder. Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos e admirado
em todos os que creram, inclusive vocês que creram em nosso testemunho.”
(itálico meu). Assim, eu argumento que visão é o que nos falta, a nós,
cristãos. Podemos orar nessa terra e o faremos no céu; Deus pode falar conosco
e o fará no céu; podemos trabalhar para Deus e o faremos no céu; podemos glorificar
a Deus na terra e o faremos lá, porém, ainda não podemos ver Jesus. Isso é o
que nos falta e será cumprido lá, somente. Todos teremos uma visão de Deus, a
qual será o combustível de nossa adoração, aquilo de que mais necessitamos.
Me amaste
antes da criação do mundo
Há uma relação da glória de Jesus e o amor de seu
Pai. Isso é notório por suas palavras. Ele diz que o Pai deu glória a ele por
causa do eterno amor entre eles: “porque me amaste antes da criação do mundo.”
Se considerarmos que é verdade que o amor entre eles nunca teve começo ou fim,
a glória, que depende desse amor, também não. Portanto, eles sempre tiveram
glória, porque sempre houve amor. A glória conferida por Deus a Jesus sempre
foi eterna e plena. Tudo depende desse amor. Nossa alegria também. Aliás, lá no
lugar celestial o admiraremos para todo o sempre. Lá mesmo ele estará em seu
trono e dirá: “Me adore! Me admire! Me veja! Me contemple! Me ame! Me
glorifique!” Sim, seremos capazes de atender a essas condições por todo o sempre.
Ele está conosco para sempre e não quebrará sua aliança: “estarei sempre com
vocês até o fim dos tempos” (Mt 28. 20).
Agora, poderíamos responder completamente a
pergunta “O que é o céu?”. “O céu é estar com Jesus para ver sua glória por
causa do pleno e eterno amor entre o Pai e o Filho.” Que a vontade de Jesus também
seja a minha e a sua. Amém.
Victor Hugo Roque
Fortaleza, CE
03 de Outubro de 2015
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