agosto 2017

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O Evangelho é prático, não pragmático



Se você já ouviu a máxima “os fins justificam os meios”, então você conhece o pragmatismo. Essa teoria é um braço do pós-modernismo[1] e afirma que a verdade das proposições é demostrada pelos seus efeitos práticos. Portanto, algo é adotável ou não como ação e/ou comportamento se tiver efeitos práticos. Um exemplo absurdo: acabar com a pobreza exterminando todos os pobres. É uma medida pragmática ao extremo, pois resolveria o problema eficazmente, mas é impraticável por inúmeros princípios adotados pelos Estados contemporâneos.

O Evangelho NÃO É PRAGMÁTICO, ou seja, ele não propõe caminhos curtos cujo fim levarão, necessariamente, a meta desejável. Entenda: a meta do evangelho é nos reconciliar com Deus por meio da cruz de Cristo e, após alcançados, levarmos essa mesma mensagem a todo o mundo. Não há caminhos pragmáticos para isso. Nem o próprio Cristo sugeriu essa ideia (Lucas 9.23). Por vezes, o caminho para alcançarmos a “meta de Deus” é espinhoso e, se dependesse da nossa vontade, seria certamente encurtado. Porém, a ideia de Deus não diz respeito somente a alcança a meta, mas nos transformar à medida que caminhamos para ela. Assim, no projeto de Deus, o fim e o meio são igualmente importantes.

Contudo, não devemos confundir: o Evangelho É PRÁTICO. Ou seja, não há espaço pra “teoricismo” no meio cristão. A verdade de Deus, obrigatoriamente, atinge o centro prático da vida do crente, bem como da comunidade em que ele está inserido. Nos tempos de graduação, alguns professores faziam piadas com outros chamando-os de “economistas de gabinete”, que eram aqueles que trabalhavam intensamente com os dados obtidos em órgãos e repartições públicas e nunca se davam ao trabalho de fazer pesquisas de campo e observar a realidade econômica do povo. Pois bem, não existem “cristãos de gabinete”. Todo cristão é chamado a prática da verdade que professa, seja no seu relacionamento com Deus, com o próximo e consigo mesmo.

Portanto, o evangelho é PRÁTICO, mas não PRAGMÁTICO. Essa distinção é importante para modelarmos corretamente nossa visão de mundo. Não devemos criar expectativas sobre caminhos fáceis que Deus tem preparado para nós. Ou, como um teólogo[2] muito querido diz: “Deus não nos prometeu uma jornada segura, mas uma chegada certa!”


Em Cristo,


Thiago Holanda - 31 de Agosto de 2017.




[1] Em breve publicarei um estudo básico sobre esse tema.
[2] Augustus Nicodemus.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

O que é a Ceia do Senhor?




Observação: O presente texto foi desenvolvido para ser um mini-curso intensivo para candidatos ao batismo em minha denominação, por isso possui um formato diferenciado dos demais textos do blog.

    A segunda ordenança simbólica que Cristo deixou a sua igreja é a Santa Ceia, que costuma ser considerada pelos crentes como um momento muito solene na vida da igreja. Sua ordenação é encontrada em três evangelhos: Mateus 26.26-29; Marcos 14.22-25 e Lucas 22.19-20. Contudo, a referência mais utilizada para o momento da celebração é o trecho que Paulo escreve em 1 Coríntios 11.23-36. Trata-se de um momento de autoexame e manifestação de gratidão à obra de Cristo. Sobre a emoção em participar da ceia do Senhor, R.C Sproul testemunha: “Quanto mais velho fico, e quanto mais progrido na fé, mais importante esta ordenança se torna para mim. Se há algum lugar em que experimento a comunhão doce de minha alma com Cristo, este lugar é a mesa do Senhor. Sob um aspecto, a experiência da ceia do Senhor vem se tornando uma fonte de embaraço para mim. Frequentemente sou obrigado a cobrir meus olhos com as mãos enquanto comungo, a fim de esconder as lágrimas que não consigo conter. De fato, a doçura de tal comunhão às vezes ultrapassa meus limites, à medida que a exuberância da presença de Cristo inunda a minha alma”.

    Mas, o que é a Ceia? É um rito instituído pelo próprio Cristo para celebração da sua morte! Pode parecer estranho a quem não conhece a Palavra de Deus a ideia de celebrar a morte de alguém. Contudo, o sacrifício de Cristo deve ser entendido pelo crente como um momento de alegria e libertação.

ASPECTOS DA CEIA

DEVE SER CELEBRADA CONTINUAMENTE (1 Co 11.24,25): diferentemente do Batismo, a Ceia é uma ordenança a ser repetida sempre. As expressões “fazei isso em memória de mim” ou “todas as vezes que beberdes” dão a ideia de que o rito deve ser praticado continuamente pela igreja. Com que frequência? A Bíblia não menciona a frequência da realização e existem, inclusive, igrejas que a realizam todo domingo, mas quase todas as denominações fazem mensalmente. Cabe ao bom senso. Nesse sentido, vale a observação de Millard Erickson: “A frequência não pode ser muito demorada, para que não haja um lapso entre um período e outro e tão curta que se torne trivial”.

É UMA FORMA DE PROCLAMAÇÃO (1 Co 11.26): a Ceia é uma dramatização do evangelho, ou seja, uma exibição vivida do que a morte de Cristo realizou: “anunciais a morte do Senhor”.

A PARTICIPAÇÃO INDIGNA (1 Co 11.27): todos os relatos bíblicos da Ceia mostram que a mesma foi ministrada, exclusivamente, aos convertidos. Paulo realça essa ideia no verso 27, ao dizer que participar da Ceia indignamente faz a pessoa se tornar culpada do corpo e do sangue do Senhor. Além disso, no verso 28, Paulo exige que todos façam um autoexame a fim de avaliarem sua vida com Deus, e tal prática não existe na vida de não regenerados. Portanto, participar da Ceia NÃO gera graça salvífica no coração do pecador.

DEVE SER REALIZADA EM COMUNHÃO (1 Co 11.29-33): a Ceia não é uma disciplina espiritual individual como meditação e oração, mas uma ordenança para a IGREJA, ou seja, um rito a ser exercido no ajuntamento solene dos santos. A igreja de Corinto era muito dividida e, por isso, os crentes que eram de “grupos” diferentes se adiantavam e não esperavam para cearem juntos. Ou seja, estavam participando do rito de maneira superficial. Paulo exorta que precisamos “discernir (entender, conhecer) o corpo”, ou seja, temos de estar em plena comunhão com os irmãos e entender que vivemos como uma comunidade eleita de Deus. Se isso não for uma realidade na igreja, haverão “muitos fracos e doentes e muitos que dormem”. Assim, devemos “esperar uns pelos outros” como um sinal de unidade cristã.

DEVE SER CELEBRADA POR UM MINISTRO ORDENADO: apesar de não existirem recomendações diretas sobre desse ponto, entende-se que, pelo fato de ser uma ordenança própria da igreja, os líderes da mesma é que devem presidir o rito, tendo a figura do pastor como líder principal, sendo auxiliado por outros líderes reconhecidos pela congregação.

CONCLUSÃO:

    Portanto, a Ceia do Senhor é um tempo em que somos atraídos para mais perto de Cristo, trazendo a nossa memória o maravilhoso sacrifício realizado em nosso favor. Gratidão deve rechear toda a celebração. Por isso, participar da Ceia traz inúmeros benefícios espirituais para o cristão e o faz lembrar da sua identidade como filho de Deus. Negligenciar a importância dessa ordenança acarretará, inevitavelmente, num coração endurecido e insensível ao Espírito Santo.

    Para finalizar, vale ressaltar que Batismo e Ceia estão intimamente conectados, pois esta última só é ministrada aos verdadeiramente convertidos e que já simbolizaram seu novo nascimento por meio do Batismo. A fim de fazer uma comparação entre essas duas ordenanças, Franklin Ferreira nos dá o seguinte quadro:



Em Cristo,
Thiago Holanda - 28/08/2017

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O que é o Batismo nas Águas?



Observação: O presente texto foi desenvolvido para ser um mini-curso intensivo para candidatos ao batismo em minha denominação, por isso possui um formato diferenciado dos demais textos do blog.

INTRODUÇÃO

Ao ser levado aos céus, o Senhor Jesus nos deixou algumas ordenanças importantes, que devem ser cumpridas tanto pelo cristão (individualmente), como por toda a igreja.
Dentre essas ordenanças, considera-se de grande importância o Batismo nas Águas e a Ceia do Senhor, que são as duas ordenanças aceitas pela igreja evangélica em todo o mundo. A tradição católica romana trabalha com o conceito de sacramentos[1] e, além destes dois, também instituiu outros cinco[2], mas que não possuem base na Palavra de Deus.

O QUE É O BATISMO?

A principal ordem para o batismo está contida na Grande Comissão (Mt 28.19) e todos concordam que esse sacramento está conectado com o começo da vida cristã. O próprio Cristo experimentou o batismo nas águas, por ocasião do seu encontro com João, o batista (Mt 3.13-17), que proclamava o descer as águas como sinal de arrependimento pelos pecados e como a vinda do Reino de Deus. Sobre esse episódio importante na vida de Cristo, Franklin Ferreira[3] nos diz: “Jesus foi batizado por João para inaugurar a vinda da nova criação, para se identificar com o povo que viera livrar do pecado (Mt 3.15) e como consagração pública ao Pai para seu trabalho de salvação (Mt 3.17), fazendo de João o seu precursor, ordenado por Deus (Lc 7.24; Ml 3.1)”

TEXTOS BÍBLICOS DE SUPORTE

UMA REPRESENTAÇÃO PÚBLICA DA FÉ CONFESSADA: 1 Pedro 3:21 - Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo;”
F Esse versículo nos ensina que o Batismo é um símbolo, e que não tem efeito no ‘despojamento da imundícia da carne’, mas que é uma ‘figura’ do que acontece internamente na vida do crente. Para facilitar a sua compreensão, veja o mesmo versículo traduzido pela Nova Bíblia Viva: “Isso, aliás, é o que o Batismo retrata para nós: No batismo mostramos que fomos salvos da morte e da condenação pela ressurreição de Cristo, não porque nossos corpos são purificados pela lavagem com água, mas porque, ao ser batizados, estamos nos voltando para Deus e pedindo que ele purifique nossos corações do pecado.” Ou seja, somos batizados PORQUE fomos perdoados, e não PARA sermos perdoados. Isso é posto, também, em Atos 2.38, quando Pedro diz que, primeiro, devemos nos “arrepender” e cada um ser batizado.

BATISMO E NOVO NASCIMENTO: João 3:5 – “Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.”
‘nascer da água’ tem conotação de purificação. Esse verso NÃO significa que o batismo tem poder de purificar a pessoa, pois entraria em contradição com a passagem explicada no item 3.1. O que Jesus está dizendo é que a água, no batismo, simboliza a purificação dos pecados JÁ EFETUADA na vida do crente, de forma que somente por meio dessa purificação é que a salvação se efetua.

BATISMO E ANTIGA ALIANÇA: Colossenses 2:11,12 – No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo; sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos.”
Encontramos aqui uma clara ligação entre circuncisão (Antiga Aliança) e o Batismo (Nova Aliança). Paulo está fazendo referência ao novo símbolo, instituído por Deus, para demonstrar o pacto com seu povo. Veja que o apóstolo usa a expressão “sepultados com ele”, ou seja, batismo simboliza a morte do crente para si mesmo e o começo de sua vida com Cristo. Ideia semelhante é mostrada em Romano 6.4: “De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Portanto, ao descermos as águas estamos mostrando uma forte associação com Cristo, tanto na morte, como na ressurreição.

O TEMPO DE FÉ É REQUISITO PARA O BATISMO?: Atos 8:36,37 - E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus.
 Não existe um tempo fixado para o crente se batizar. Note que o versículo acima narra o batismo de um eunuco logo após sua conversão. Contudo, vale observar que, diante de um contexto em que muitos entram na igreja sem a verdadeira conversão, é recomendável que a liderança da igreja institua ou sugira um tempo de observação entre a possível conversão e o batismo. Além disso, vale salientar que a passagem de Atos nos dá o critério mais importante para uma pessoa que deseja o batismo: crer em Cristo de todo coração. É por esse motivo que não se devem batizar crianças recém-nascidas, como é prática comum de algumas igrejas.

Coríntios 15:29 - Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?
Quase ao norte de Corinto havia uma cidade chamada Eleusis. Este era o local onde os seguidores de uma religião pagã praticavam o batismo no mar a fim de garantir uma boa vida após a morte. Acredita-se que, essa prática tenha se infiltrado na igreja da cidade. Ou seja, na tentativa de salvar parentes que morreram sem Cristo, os crentes faziam batismo por procuração, ou seja, batizavam alguém em vida para salvar alguém morto. Evidentemente, esse costume não possui suporte nas escrituras.[4]

O QUE NÃO É BATISMO!

Não é a salvação/regeneração: o crente não é salvo no momento do batismo, mas antes dele. Como visto, o batismo é um símbolo de uma salvação efetuada anteriormente. Portanto, não pode ser imposto a outra pessoa como forma de compromisso religioso obrigatório, mas deve ser um ato de fé voluntário.

Não é revestimento de poder: por ser um símbolo, não possui poder algum por si só, mas o Espírito Santo, que já habita no crente salvo, é quem opera poderosamente na vida dos filhos de Deus. Batizar-se para ficar espiritualmente fortalecido é um erro comum de muitos cristãos.

Não é opcional: O batismo não é determinante para a salvação de uma pessoa. O ladrão ao lado de Cristo na cruz (Lucas 23.39-40) não foi batizado e Jesus o salvou. Contudo, havendo condições e tempo hábil para o batismo, o cristão deve se batizar.

Para reflexão: Batismo é o chamado e a entrada no discipulado. Não é a oferta do ser humano, mas uma oferta de Jesus Cristo. (Dietrich Bonhoeffer)




[1] No site católico Canção Nova, sacramento significa: “Sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo e confiados à Igreja, por meio dos quais nos é dispensada a vida divina. Os ritos    Ou seja, segundo o conceito católico, o batismo, bem como os demais sacramentos, tem poder de operação por si só.

[2] São eles: confirmação, penitência, ordenação, matrimônio e a extrema-unção.

[3] Franklin Ferreira. Teologia Sistemática. Vida Nova, 2014.
[4] Vale lembrar que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Mórmons) ainda adota a prática de batismo pelos mortos!

domingo, 13 de agosto de 2017

Ryan, faça por merecer...




AVISO: esse texto contém spoilers do filme.

Ontem assisti novamente ao clássico “O resgate do soldado Ryan”, dirigido por Steven Spielberg e com atuação perfeita de Tom Hanks. O filme narra a jornada de uma equipe de militares liderada pelo Capitão John (Tom Hanks) que precisa entrar numa região extremamente hostil da França durante a Segunda Guerra Mundial para resgatar um único soldado: Ryan. Motivo? Seus outros 3 irmãos já haviam morrido na guerra e o governo americano concede, em favor de sua mãe, o benefício de ter seu único filho de volta. Ao ser achado pela equipe Ryan se recusa a retornar, por conta do seu dever para com o país e a necessidade de proteger uma ponte do domínio alemão iminente, pois a mesma era muito estratégica para o avanço nazista. Mesmo revoltados com a decisão de Ryan, os soldados da equipe decidem que o certo a se fazer é ficar no local e ajuda-lo na tarefa. Pulando para o final do filme, encontramos uma cena muito emocionante: encurralados pelos inimigos, John, Ryan e poucos sobreviventes se veem nos últimos momentos de vida quando, de repente, são salvos pela Força Aérea dos aliados. Contudo, infelizmente, capitão John não resiste a um ferimento e morre. Suas últimas palavras para Ryan, após o sacrifício de quase toda a equipe e de si mesmo em prol do rapaz, foi: “Faça por merecer...”

Foi um pedido forte. A vida de inúmeros homens foi sacrificada em prol de um só. Ryan tinha que viver uma vida extremamente significativa para “compensar” tamanho sacrifício. Mas fiquei pensando: “Cristo teria dito o mesmo para nós?”. Afinal, ele se sacrificou, não é mesmo? A morte dele foi capaz de nos salvar e precisamos lembrar disso. Contudo, creio que ele jamais diria isso, sabe porquê? Porque seria uma tarefa IMPOSSÍVEL. Jamais conseguiríamos “fazer por merecer” o sacrifício Daquele que foi tão puro e perfeito aqui na Terra. Seu sacrifício foi diferente do que vimos no filme porque foi o sacrifício perfeito, de alguém que não merecia morrer por vários que mereciam. Paulo enfatiza isso em Romanos 5.8, quando diz: “Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Ainda que vivamos intensamente e busquemos como propósito supremo viver em prol dos outros, essa vida jamais faria por merecer a morte do Primogênito de Deus.

Porém, não é por isso que devemos viver de qualquer forma. Ainda que jamais mereçamos esse presente, precisamos viver “integralmente entregues” a vontade daquele que nos retirou da lama do pecado e nos conduziu a uma vida única de esperança.

Paul Washer conta que uma vez estava pregando no auditório de uma universidade e um jovem se levantou e perguntou:

- Como o sacrifício de um homem só, durante poucas horas, foi capaz de salvar todo o resto da humanidade? Isso não parece justo.

Paul Washer responde:

- É porque esse homem vale mais do que todos os outros juntos. Se você pega as montanhas, montes, todo o planeta, todas as estrelas, toda forma de beleza, tudo aquilo que canta, tudo aquilo que resplandece, e coloca tudo isso em uma balança, CRISTO CONTIUARÁ SENDO MAIS VALIOSO.

Que eu e você nos lembremos continuamente do sacrifício de Jesus. Não para tentar viver de modo a merecer tal benefício, pois seria impossível, mas para ser grato ao Deus cujo amor nos constrange (2 Co 5.14)


Em Cristo,



Thiago Holanda.

p.s: Para assistir a história de Paul Washer contada por ele mesmo, clique na imagem abaixo. Vale a pena, pois é emocionante.

domingo, 6 de agosto de 2017

“Um espaço entre nós” e uma vida significativa.



Hoje assisti um filme de romance bem adolescente intitulado “O espaço entre nós”. Narra a história de um rapaz que nasceu em Marte. Sua mãe foi uma astronauta renomada que morreu durante seu parto. Por conta de uma série de problemas de saúde, ele ficou impossibilitado de morar na terra e foi criado por outros astronautas na estação espacial. Contudo, aos 16 anos ele sentiu uma profunda necessidade de conhecer a Terra e procurar seu pai. Vou parar por aqui para não dar spoilers. Confesso que é um filme tosquinho, cheio de um romance meio ‘piegas’ e cenas de amor bem previsíveis.
Contudo, o filme nos faz refletir no significado da nossa vida aqui na terra. Uma cena em especial me chamou muita atenção: o rapaz está se trocando no banheiro de um supermercado e, ao sair da cabine, se depara com várias crianças que estavam prestes a “pichar” o espelho do banheiro. Ao verem que não estavam sozinhas, as crianças fugiram. Ele, meio bobalhão ainda, não entende o porquê da fuga e pega o pincel, olha para o espelho e então escreve: “Eu estive aqui.” Confesso que passei um bom tempo meditando nisso, e me perguntei: será que minha vida aqui na terra está sendo suficientemente significativa? Será que tenho deixado uma marca positiva durante minha brevíssima jornada por aqui?
Me espanta ver tantos jogando no lixo seu precioso tempo de permanência aqui na terra com coisas tão sem significado. O personagem do filme, desde o início, sabia que seu destino final não era a terra. Por motivos de saúde, ele sabia que teria de voltar pra Marte ou, então, morreria muito brevemente por aqui. Isso o impulsionou a viver essa curta estadia dando o melhor de si em tudo e deixando sua marca aonde ele pudesse. Isso foi a sua motivação ao escrever no espelho: “eu estive aqui”. Era uma marca simples, mas era uma marca. Aquele espelho do banheiro não ia ser mais o mesmo depois da passagem dele. O que eu e você temos modificado? Vamos viver 70, 80 ou Deus sabe quantos anos e não deixaremos nossa marca em nada? Não modificaremos a vida de ninguém por aqui?
Não sei você, mas eu quero uma vida de significado. Sei que sou um peregrino, assim como o personagem, e brevemente terei de voltar ao lar. Mas vou encarar essa minha breve passagem como um presente precioso e quero aproveitar cada segundo dela e deixar, não em espelhos, mas no coração daqueles que amo uma marca com os mesmo dizeres: “eu estive aqui”.

Em Cristo,
Thiago Holanda.

sábado, 5 de agosto de 2017

Nós precisamos pagar algum preço?




Você já deve ter ouvido o seguinte jargão evangélico: “irmão(ã), você precisa pagar o preço!”. O que isso significa? Na maioria das vezes, o que o que está sendo dito é algo do tipo “santifique-se”, “busque mais a Deus”, “faça mais consagrações (jejum, oração, etc) ao Senhor” ou algo parecido. Inclusive, recentemente, a cantora gospel Damares (foto) lançou a música ‘Alto Preço’ (mais uma no rol de suas muitas heresias musicais), que diz: “eu tô pagando, eu tô pagando, o preço pra morar no céu eu tô pagando...”.
Minha pergunta é: é errado dizer que devemos pagar o preço no sentido espiritual? Bem, a resposta é sim e não. Deixe-me explicar: conhecendo o conceito de graça e suas aplicações na vida do crente, não pagamos preço algum por nada. É nisso que o jargão, a meu ver, se torna muito perigoso, afinal, pode passar a falsa ideia (já bem sedimentada na mente de irmãos imaturos) de que há algum mérito nosso em fazer algo para Deus e, assim, correrem o risco de esquecer que não passamos de servos inúteis (Lucas 17.10).
Contudo, o jargão não é completamente errado. E para me ajudar nessa argumentação quero tratar do conceito de ‘graça preciosa’, trabalhado por Dietrich Bonhoeffer[1] (foto) em seu livro “Discipulado”. Na visão do autor, há dois ‘tipos’ de graça, a barata e a preciosa. A primeira é a “inimiga mortal da nossa igreja”, é a graça sem custo, é uma graça que encontra fácil cobertura para seus pecados dos quais o crente não tem remorso e não deseja verdadeiramente libertar-se. Ela “justifica o pecado, mas não o pecador”. Portanto, o lema desse tipo de graça, nas palavras de Bonhoeffer, é: “Viva, pois, o crente como vive o mundo, coloque-se, em tudo, em pé de igualdade com o mundo, e não se atreva – sob pena de ser acusado de heresia entusiasta! -  a ter, sob a graça, uma vida diferente da que tinha sob o pecado!”
Em contraste, a graça preciosa é o tesouro oculto no campo. Ela é o “evangelho que se deve procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta a qual se tem que bater”. Ela condena o pecado, e justifica o pecador. Para Bonhoeffer, essa graça é preciosa “por ter sido preciosa para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu filho – ‘vocês foram comprados por preço’ – e porque não pode ser barato para nós aquilo que custou caro para Deus. A graça é preciosa sobretudo porque Deus não achou que seu Filho fosse preço demasiado caro para pagar pela nossa vida, antes o deu por nós.”
Existe sim uma dimensão da vida do crente onde a graça requer de nós um esforço sem igual. Há um preço a ser pago por ser cristão, não PARA SER cristão. O chamado de Deus é para, depois de salvos, vivermos como Jesus viveu e se ele pagou um alto preço, também precisaremos pagar. Me admira o comodismo de certos cristãos que permitiram que a graça se tornasse algo tão ordinário em suas vidas. Já não há mais cruz na vida de alguns. Me impressiono com a falta de fervor e vontade de viver uma vida extraordinariamente entregue nas mãos do Pai. O custo do discipulado é difícil, mas sobremodo precioso.
Minha oração é para que eu e você mantenhamos a graça preciosa ardendo em nossos corações. O discipulado de Jesus é um convite a vida e a morte. Viveremos sim, mas antes morreremos.
Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. (Lucas 9:23)
Em Cristo,
Thiago Holanda.



[1] Pastor luterano que foi martirizado por Hitler durante a 2ª Guerra Mundial.