Páginas viradas...
Recentemente
conversei com uma amiga sobre como saber quais conflitos na vida nós já podemos
considerar resolvidos ou não, ou seja, como saber se um desentendimento ou
ressentimento com alguém realmente ficou pra trás? A importância disso é enorme
para uma boa convivência, afinal, somos todos muito diferentes e um assunto que
possa já ser uma página virada na vida de alguém, pode não ser para o outro, e
isso possivelmente vai gerar feridas no futuro. Uma página não virada é uma
ferida aberta para bactérias e, inevitavelmente, inflamará no futuro.
Já vivi
situações onde alimentei por muito tempo pensamentos negativos a respeito de
uma pessoa, por conta de situações não resolvidas. Contudo, para a outra pessoa,
esse conflito já não existia, e ela não era afetada da mesma maneira que eu.
Isso me deixava ainda mais irritado, e eu pensava: “como essa pessoa pode ser
tão indiferente a essa pendência?”. Porém, na verdade, a pessoa em questão já
tinha virado a página que eu insistia em manter aberta.
Viver
uma situação como essa é delicada, e ambas as partes precisam de sabedoria e
sensibilidade. Quem já virou a página precisa se certificar de que o outro
também viveu o mesmo, e caso contrário, precisa o ajudar nesse processo. Se
isso não acontecer, o relacionamento vai por água abaixo, pois as feridas
continuarão abertas, causando dor e tristeza. Por outro lado, quem ainda não
virou a página e insiste em manter pensamentos negativos precisa entender a
fase que a outra pessoa vive não a torna indiferente, mas livre. Liberdade essa
que é perseguir, para que tudo se torne passado e a única lembrança seja o
amadurecimento conquistado.
Como
saber se é hora de virar uma página? Primeiro, creio que deve-ser “ler” tudo
que nela está escrito, ou seja, a situação foi completamente explicada de ambos
os lados? Todos ouviram todas as versões e os sentimentos já foram
compartilhados? Se isso não acontecer, fatos “novos” podem surgir ou
sentimentos antes não compartilhados podem gerar um desconforto futuro e trazer
a tona tudo outra vez. Para se “ler” toda uma página não há segredo, o único
procedimento válido é a conversa honesta, o velho “olho no olho”, onde o melhor
caminho é desnudar a alma perante o outro.
Outra
coisa importante: é preciso ser realista e decidir se haverão chances para
outras páginas, ou seja, se a história entre os envolvidos continuará ou não.
Perdoar não significa, necessariamente, continuarem caminhando juntos. Nossa
história com algumas pessoas chegará ao fim um dia, e viver (e resolver) um
conflito pode ser a última página e, então, cada um construirá novas histórias.
A grande questão é: todas as feridas foram curadas?
Não
viver esses processos é condenar a si mesmo a uma vida pesada, onde as páginas
não viradas se amontoam em nossa alma e nos privam a liberdade de viver de
maneira plena. Esaú e Jacó nos dão um exemplo simbólico. Por 20 anos uma página
não foi virada permaneceu causando dor entre ambos. Depois de tanto tempo de
afastamento, Jacó retorna para sua terra com uma enorme família ao seu lado. Ao
saber disso, Esaú vai encontrá-lo com 400 homens para finalmente concretizar a
ameaça proferida. Jacó fica transtornado. Ele e todos os seus familiares seriam
assassinados, o que fazer? Deus intervém e muda o nome e o caráter de Jacó,
agora ele seria Israel, homem íntegro e suficientemente humilde para ir de
encontro ao seu irmão e pedir perdão por tudo que fizera. O virar da página na
vida desses dois irmãos foi um momento ímpar: “Então Esaú correu-lhe
ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e
choraram.” (Gênesis 33:4)
Que Deus
intervenha da mesma maneira em nossas vidas, nos dando humildade para pedir
perdão e, em sinceridade, viver novas páginas. A vida é muito breve para
afundá-la no mar sombrio dos ressentimentos.
Em
Cristo,
Thiago
Holanda.
07/11/2017.
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