Páginas viradas...

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Páginas viradas...



Recentemente conversei com uma amiga sobre como saber quais conflitos na vida nós já podemos considerar resolvidos ou não, ou seja, como saber se um desentendimento ou ressentimento com alguém realmente ficou pra trás? A importância disso é enorme para uma boa convivência, afinal, somos todos muito diferentes e um assunto que possa já ser uma página virada na vida de alguém, pode não ser para o outro, e isso possivelmente vai gerar feridas no futuro. Uma página não virada é uma ferida aberta para bactérias e, inevitavelmente, inflamará no futuro.

Já vivi situações onde alimentei por muito tempo pensamentos negativos a respeito de uma pessoa, por conta de situações não resolvidas. Contudo, para a outra pessoa, esse conflito já não existia, e ela não era afetada da mesma maneira que eu. Isso me deixava ainda mais irritado, e eu pensava: “como essa pessoa pode ser tão indiferente a essa pendência?”. Porém, na verdade, a pessoa em questão já tinha virado a página que eu insistia em manter aberta.

Viver uma situação como essa é delicada, e ambas as partes precisam de sabedoria e sensibilidade. Quem já virou a página precisa se certificar de que o outro também viveu o mesmo, e caso contrário, precisa o ajudar nesse processo. Se isso não acontecer, o relacionamento vai por água abaixo, pois as feridas continuarão abertas, causando dor e tristeza. Por outro lado, quem ainda não virou a página e insiste em manter pensamentos negativos precisa entender a fase que a outra pessoa vive não a torna indiferente, mas livre. Liberdade essa que é perseguir, para que tudo se torne passado e a única lembrança seja o amadurecimento conquistado.

Como saber se é hora de virar uma página? Primeiro, creio que deve-ser “ler” tudo que nela está escrito, ou seja, a situação foi completamente explicada de ambos os lados? Todos ouviram todas as versões e os sentimentos já foram compartilhados? Se isso não acontecer, fatos “novos” podem surgir ou sentimentos antes não compartilhados podem gerar um desconforto futuro e trazer a tona tudo outra vez. Para se “ler” toda uma página não há segredo, o único procedimento válido é a conversa honesta, o velho “olho no olho”, onde o melhor caminho é desnudar a alma perante o outro.

Outra coisa importante: é preciso ser realista e decidir se haverão chances para outras páginas, ou seja, se a história entre os envolvidos continuará ou não. Perdoar não significa, necessariamente, continuarem caminhando juntos. Nossa história com algumas pessoas chegará ao fim um dia, e viver (e resolver) um conflito pode ser a última página e, então, cada um construirá novas histórias. A grande questão é: todas as feridas foram curadas?

Não viver esses processos é condenar a si mesmo a uma vida pesada, onde as páginas não viradas se amontoam em nossa alma e nos privam a liberdade de viver de maneira plena. Esaú e Jacó nos dão um exemplo simbólico. Por 20 anos uma página não foi virada permaneceu causando dor entre ambos. Depois de tanto tempo de afastamento, Jacó retorna para sua terra com uma enorme família ao seu lado. Ao saber disso, Esaú vai encontrá-lo com 400 homens para finalmente concretizar a ameaça proferida. Jacó fica transtornado. Ele e todos os seus familiares seriam assassinados, o que fazer? Deus intervém e muda o nome e o caráter de Jacó, agora ele seria Israel, homem íntegro e suficientemente humilde para ir de encontro ao seu irmão e pedir perdão por tudo que fizera. O virar da página na vida desses dois irmãos foi um momento ímpar: Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.” (Gênesis 33:4)

Que Deus intervenha da mesma maneira em nossas vidas, nos dando humildade para pedir perdão e, em sinceridade, viver novas páginas. A vida é muito breve para afundá-la no mar sombrio dos ressentimentos.

Em Cristo,

Thiago Holanda.
07/11/2017.




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