novembro 2017

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Indiferença dói


Eu imagino a indiferença como o ato de jogar no lixo qualquer tipo de consideração, seja positiva ou negativa, por algo ou alguém. Indiferença é muito pior do que a raiva ou o desprezo, pois estes estão relacionados com a rejeição, contudo só rejeitamos aquilo que consideramos como existente, e com uma mínima importância. A indiferença é a desconsideração pela própria existência do ser.

Assim, se sou indiferente para com alguém, estou cometendo um ato de ‘homicídio interno’. Aquela pessoa recebe, na minha vida, a mesma importância de um nada e já não há mais nenhum sentimento positivo ou negativo. Condenamos aquela pessoa, no tribunal do nosso coração, a pena máxima da não-existência, e por isso, acredito que a indiferença gera muito mais atrocidades do que o próprio ódio. Sim, o ódio é um amor mal resolvido, um sentimento que é mais facilmente “convertido” e pode sim gerar crueldade, mas com limites, afinal, ainda há o reconhecimento do outro como um semelhante.

Ser alvo da indiferença alheia dói muito e costumamos nos perguntar: o que fiz de tão grave para merecer isso? Por que minha existência tinha de ser assassinada pelo outro? Causa feridas saber que passamos a não ter mais valor algum pra outra pessoa, por mais que esta não seja tão fundamental na nossa vida. Contudo, ser uma vítima da indiferença é algo pelo qual não podemos lutar, pois é uma decisão que não nos coube, e é fruto de um coração covarde. Sim, isso mesmo, covarde. Alguém que foge dos problemas com o próximo resolvendo matá-lo no tribunal da mente não passa de um covarde, que se nega a lutar e resolver. Cabe ao outro viver essa decisão.

O que fazer então? Lutar para manter a bravura do NOSSO coração e não cairmos no mesmo pecado. Reconhecer que por mais feridas que indivíduos tenham nos causado, somos ainda devedores deles, pois feridas são oportunidades de crescimento e, depois de curadas, trazem refrigério para a alma.

Em Cristo,
Thiago Holanda


23/11/2017.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Por que é tão difícil perdoar?


Poucos mandamentos de Cristo são tão difíceis de se colocar em prática quanto o de perdoar. Não somos naturalmente perdoadores. Até aqueles que se gabam por não tratar mal seus ofensores são também mal perdoadores, e o único motivo para essas pessoas se gabarem é, na verdade, o de serem ótimos em enterrar e disfarçar mágoas.

Cristo falou muito de perdão. Ele foi o maior exempo de perdão. Por que, então, somos tão mal perdoadores? Com minha experiência pessoal de um péssimo perdoador, gostaria de citar três razões:

i) Perdoar me tira o direito de ser uma eterna vítima: manter a mágoa viva em meu coração me trás a mente o quanto aquela pessoa foi má comigo, violando meus direitos e, por isso, posso me sentir ferido. Ser vítima é bom e confortável. Todos olham pra vítima como a “coitadinha” da história e isso nos põe numa situação muito cômoda. Perdoar nos lembra que sempre temos uma parcela de culpa na história, ainda que mínima e, consequentemente, não somos tão vítimas como supomos.

ii) Perdoar confronta minha sede por vingança: além de vítimas, gostamos de assumir o papel de justiçeiros e provocar nos outros uma dor semelhante, ou ainda maior, do que a que estamos sentido. Citei anteriormente que não somos naturalmente perdoadores, mas somos fácilmente vingadores e não precisamos de muito esforço pra assumir esse papel.  Perdoar me obriga a jogar essa sede de vingança no mar do esquecimento.

iii) Perdoar me obriga a exercer uma das mais difíceis habilidades, a empatia: ou seja, se colocar no lugar do outro. Empatia é lembrar que eu já errei e ofendi os outros da mesma maneira ou, então, ainda mais gravemente e, assim como eu quis ser perdoado, o outro provavelmente também o quer. Perdoar é lembrar que o senhor Jesus, na cruz do calvário, perdoou os meus pecados, mesmo que eu ainda não tivesse me arrependido de nenhum deles. Ele nos concedeu perdão mesmo sabendo de todos os erros que cometemos e os que vamos cometer pelo resto da vida. Contudo, ainda assim ele nos perdoou, pois “conhece nossa estrutura e lembra-se que somos pó” (Salmo 103.14). As nossas fraquezas e falhas não surpreendem a Deus, mas o fazem derramar graça sobre graça em cada um de nós.

Não escrevi esse texto por ser o “Sr. Perdoador”, pelo contrário: Deus ainda vai me “quebrar” muito nessa área, e Ele é tão “didático” que os momentos em que mais nos ensina a perdoar é quando buscamos o perdão de alguém e isso nos é negado. Contudo, o Senhor tem uma história com cada um de nós e temos de entender que o outro está vivendo a história dele. Então, o que nos resta? Uma única coisa: esperança.


Em Cristo,

Thiago Holanda.

20/11/2017.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O nevoeiro da incredulidade



Recentemente uma amiga muito especial, ao orar em voz alta, disse: “Senhor, ensina-nos a enxergar o teu SIM por trás do teu NÃO”. Essa oração ficou ecoando em minha cabeça por um bom tempo, e pensei: na realidade, toda porta que Deus abre ou fecha é um sim. Isso mesmo, um “sim” para nossa felicidade, pois costumeiramente desejamos o que não deveríamos desejar. Sonhamos em obter coisas ou conquistar posições que estão completamente fora da vontade de Deus, e quando Deus, em sua infinita graça, nos nega essas coisas, o faz por amor, pois Ele sabe o quão infelizes seríamos se tais desejos (muitas vezes pecaminosos) fossem atendidos.

Contudo, é muito simples de entender esse princípio na teoria, mas a prática é outra coisa. As vezes me sinto como uma eterna criança que custa muito a aprender que não se deve ganhar tudo o que quer. Uma frase muito linda do C.S Lewis diz assim: “Nossa oração nunca é ignorada. Pelo contrário, é recebida, considerada e recusada para o nosso bem supremo”. Somos intensamente abençoados por esse “filtro” que Deus faz em nossos desejos, pois em nossa insignificante sabedoria, jamais faríamos o mesmo.

Nosso coração milita dia e noite por vontades egoístas e precipitadas,  e o NÃO de Deus, geralmente revela que existe um SIM mais adiante, e não o enxergamos agora porque há um nevoeiro de incredulidade tampando nossa visão de tal forma, que passamos a ver somente o imediatismo do que está posto diante de nós. Somente o próprio Deus pode limpar esse nevoeiro, por meio de doses generosas de fé. Só então, passaremos a ouvir o NÃO de Deus como um SIM.

Viver como discípulo nos leva a lições bem duras, mas quando Cristo é nossa esperança, tudo vale a pena!

Em Cristo,
Thiago Holanda


15/11/2017.

domingo, 12 de novembro de 2017

Entregue seus planos (Tiago 4.14-17)


Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo". Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado. (Tiago 4:14-17)

Tiago é uma epístola muito provocativa. Lutero não gostava muito dela. Por que? Bem, basta dizer que ela é uma claro desafio aos “acomodados na fé”. Tiago desafia todo o senso comum cristão (ele faz isso até hoje) ao declarar que “a fé sem obras é morta” e que a “verdadeira religião” está na prática da piedade, especialmente com o próximo. Isso fere muitos cristãos preguiçosos.

Na passagem acima encontramos um trecho bem interessante. O que Tiago quer nos passar? Para responder tal pergunta devemos dar uma olhada no contexto anterior e posterior da passagem. No começo do capítulo 4, o autor fará exortações diversas, tais como contra contenda entre irmãos (4.1-10), maledicência (4.11,12). No começo do capítulo 5, ele repreenderá aqueles que adquirem e empregam as riquezas de forma corrupta. Parece-nos que estava direcionando sua fala para pessoas abastadas que, pelo que vemos em outros trechos do livro, gostavam de se gabar por possuírem status econômico.

Exploremos o trecho com mais detalhes:

(14)  Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa.

Que é a sua vida?”. Essa é uma pergunta muito significativa. É possível respondê-la? Tiago responde por nós: é insignificante. Somos peregrinos nessa terra, pois estamos aqui somente de passagem. A neblina é um fenômeno que geralmente ocorre entre a madrugada e o período da manhã, com a condensação da água que cai no solo, especialmente por conta da chuva. Elas costumam aparecer e desaparecer em pouco tempo. Assim somos nós. Nossa vida passa muito rapidamente e somos lembrados disso pela palavra de Deus. Portanto, a vida é curta e incerta. Nós não conhecemos o futuro. O único ser que conhece todo o passado, presente e futuro é o Senhor Deus e por isso Tiago vai deixar muito claro no versículo 15 que…

(15)  Ao invés disso, deveriam dizer: "Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo".

Se o Senhor quiser…” – ou seja, devemos viver cada minuto da nossa vida lembrando que a vontade do Senhor é soberada. Ele tem o controle de tudo em suas mãos e nada foge dos seus direcionamentos. Hernandes Dias Lopes diz que “precisamos entender que mesmo que as coisas fujam do nosso controle, elas continuam rigorosamente sob o controle de Deus. Ele governa os céus e a terra e também os destinos das nossas vidas!”. Isso quer dizer que não devemos traçar planos? Não! Isso quer dizer que nossos planos devem estar alinhados com a vontade de Deus, e quando ele negar nossos planos, devemos nos sujeitarmos a isso. O que é condenado aqui não é o “traçar planos”, mas viver de tal maneira que a vontade de Deus não é considerada. Quando foi a última vez que oramos antes de tomar uma decisão importante? Quando foi que oramos em busca de direcionamentos sobre qual curso universitário vamos fazer? Oro para saber para qual empresa devo enviar meu currículo? Ou sobre que tipo de carro vamos comprar? Viver a vida sem considerar o direcionamento de Deus é INCREDULIDADE.

(16)  Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna.

Tiago está condenando todos aqueles que confiam em seus próprios recursos, ou seja, desprezam a lei divina porque acham que são autossuficientes. Toda “vanglória” é maligna, pois só Deus pode ser glorificado e não passamos de seres insignificantes como a neblina. Vários homens no passado declararam não precisavam de Deus e aprenderam a lição da pior maneira possível. No dia 31 de Maio de 1911 foi lançado ao mundo o “Titanic”, o maior navio construído até então. Um dos funcionários da “White Star Line” declarou aos jornais da época: “Nem Deus afunda esse navio!” e o resto da história é conhecida. Tancredo Neves, primeiro presidente eleito depois do governo militar, declarou que nem Deus o tirava da presidência da República. Contudo, adoeceu gravemente na véspera de sua posse e não chegou a assumir o cargo, falecendo semanas depois.

Devemos ser totalmentes dependentes de Deus, em cada área da nossa vida, nunca confiando em nossa capacidade ou nos recursos que possuímos, mas sabendo que Deus é o nosso sustentador. Ainda que nós mesmos ou todos os nossos recursos venham a falhar, ELE JAMAIS FALHARÁ!

(17)  Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado.

Tiago encerra sua argumentação de forma bem simples: vocês sabem que precisam fazer tudo sob o comando de Deus e não agir dessa forma é pecado. Tiago estava escrevendo para crentes, pessoas que conheciam o evangelho e entendiam o significado de ser discípulo, contudo não estavam vivendo de tal forma. Crentes assim nos remetem a parábola do servo que “conheceu a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo sua vontade” (Lucas 12.47).

Nós que nascemos de novo, experimentamos a graça de Deus, somos indesculpáveis diante Dele. Quais dos nossos planos ainda não estão debaixo da vontade de Deus? Quais áreas da nossa vida estão debaixo do pecado por ainda não as entregarmos para o bom Deus?

Que o Senhor possa perdoar toda nossa incredulidade.

Em Cristo,
Thiago Holanda
12/11/2017
















terça-feira, 7 de novembro de 2017

Páginas viradas...



Recentemente conversei com uma amiga sobre como saber quais conflitos na vida nós já podemos considerar resolvidos ou não, ou seja, como saber se um desentendimento ou ressentimento com alguém realmente ficou pra trás? A importância disso é enorme para uma boa convivência, afinal, somos todos muito diferentes e um assunto que possa já ser uma página virada na vida de alguém, pode não ser para o outro, e isso possivelmente vai gerar feridas no futuro. Uma página não virada é uma ferida aberta para bactérias e, inevitavelmente, inflamará no futuro.

Já vivi situações onde alimentei por muito tempo pensamentos negativos a respeito de uma pessoa, por conta de situações não resolvidas. Contudo, para a outra pessoa, esse conflito já não existia, e ela não era afetada da mesma maneira que eu. Isso me deixava ainda mais irritado, e eu pensava: “como essa pessoa pode ser tão indiferente a essa pendência?”. Porém, na verdade, a pessoa em questão já tinha virado a página que eu insistia em manter aberta.

Viver uma situação como essa é delicada, e ambas as partes precisam de sabedoria e sensibilidade. Quem já virou a página precisa se certificar de que o outro também viveu o mesmo, e caso contrário, precisa o ajudar nesse processo. Se isso não acontecer, o relacionamento vai por água abaixo, pois as feridas continuarão abertas, causando dor e tristeza. Por outro lado, quem ainda não virou a página e insiste em manter pensamentos negativos precisa entender a fase que a outra pessoa vive não a torna indiferente, mas livre. Liberdade essa que é perseguir, para que tudo se torne passado e a única lembrança seja o amadurecimento conquistado.

Como saber se é hora de virar uma página? Primeiro, creio que deve-ser “ler” tudo que nela está escrito, ou seja, a situação foi completamente explicada de ambos os lados? Todos ouviram todas as versões e os sentimentos já foram compartilhados? Se isso não acontecer, fatos “novos” podem surgir ou sentimentos antes não compartilhados podem gerar um desconforto futuro e trazer a tona tudo outra vez. Para se “ler” toda uma página não há segredo, o único procedimento válido é a conversa honesta, o velho “olho no olho”, onde o melhor caminho é desnudar a alma perante o outro.

Outra coisa importante: é preciso ser realista e decidir se haverão chances para outras páginas, ou seja, se a história entre os envolvidos continuará ou não. Perdoar não significa, necessariamente, continuarem caminhando juntos. Nossa história com algumas pessoas chegará ao fim um dia, e viver (e resolver) um conflito pode ser a última página e, então, cada um construirá novas histórias. A grande questão é: todas as feridas foram curadas?

Não viver esses processos é condenar a si mesmo a uma vida pesada, onde as páginas não viradas se amontoam em nossa alma e nos privam a liberdade de viver de maneira plena. Esaú e Jacó nos dão um exemplo simbólico. Por 20 anos uma página não foi virada permaneceu causando dor entre ambos. Depois de tanto tempo de afastamento, Jacó retorna para sua terra com uma enorme família ao seu lado. Ao saber disso, Esaú vai encontrá-lo com 400 homens para finalmente concretizar a ameaça proferida. Jacó fica transtornado. Ele e todos os seus familiares seriam assassinados, o que fazer? Deus intervém e muda o nome e o caráter de Jacó, agora ele seria Israel, homem íntegro e suficientemente humilde para ir de encontro ao seu irmão e pedir perdão por tudo que fizera. O virar da página na vida desses dois irmãos foi um momento ímpar: Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.” (Gênesis 33:4)

Que Deus intervenha da mesma maneira em nossas vidas, nos dando humildade para pedir perdão e, em sinceridade, viver novas páginas. A vida é muito breve para afundá-la no mar sombrio dos ressentimentos.

Em Cristo,

Thiago Holanda.
07/11/2017.