Não somos donos de ninguém
Em 1996, Jim
Carrey atuou no filme “The Cable Guy” (‘O Pentelho’, em português). Nessa
comédia, ele faz o papel de um instalador que recebe a proposta de burlar o
sistema e colocar alguns canais a mais na casa de um cliente por uma propina de
50 dólares. Por ser um cara extremamente solitário, o personagem entende essa
proposta como um convite para a formação de uma nova amizade e, a partir daí,
começa a “sufocar” o cliente oferecendo uma “amizade” extremamente invasiva, o
que acaba gerando uma série de problemas e assim segue o desenrolar do filme.
O interessante
do filme é lembrar de personagens reais que fizeram (ou fazem) parte da nossa
vida e oferecem um tipo de amizade muito parecida. O excesso de carência
emocional (muitas vezes oriunda de uma família desestruturada, ou das
complicações de se viver numa grande metrópole, ou ambas[1]) de algumas
pessoas as faz depositarem toda a esperança de alegria, segurança e conforto
num semelhante que jamais poderá atender essas expectativas. Pessoas assim
parecem querer tomar posse de tal maneira da vida dos outros que as mais
insignificantes atitudes podem causar as maiores confusões.
O nome disso é
“dependência emocional”, ou seja, é ancorar o barco da minha vida no porto
errado. É achar que minha alegria só poderá ser satisfeita se aquela
determinada pessoa se tornar uma marionete dos meus mais obscuros desejos. Por
favor, entenda: isso não é amor, é escravidão. Um dependente pode ser alguém
naturalmente calmo e pacífico, mas que se transtornará, caso encontre seu ídolo
descumprindo seus ditames.
A maior lição
que um dependente precisa aprender é a de que não somos donos de ninguém, mas
parceiros de viagem. A compreensão mais correta, no meu entender, de amizade, é
a de que só poderemos caminhar com alguém se estivermos dispostos a olhar para
ela“de lado”. Pois olhar “de cima” ou “de baixo” é doentio e jamais será
amizade verdadeira, mas possessão e escravidão.
Já acompanhei
quem vive assim e superar isso é um desafio e não quero passar a imagem de que
lidar com esse problema seja fácil, jamais! Mas quero abrir os olhos para entendermos
que nossa vida necessita de um singificado eterno e isso só pode ser alcançado
se ancorarmos em Cristo, nosso verdadeiro amigo, o único a quem estamos
autorizados a olhar “de baixo”, ainda que Ele se coloque ao nosso lado.
Confiando
nisso, teremos libertação de todo cativeiro relacional e viveremos os
verdadeiros desfrutes que somente uma boa amizade pode dar.
Em Cristo,
Thiago Holanda.
[1] Não quero me
estender nesse tópico, mas grandes metrópoles tendem a transformar os
relacionamentos e levar pessoas a cultivarem valores individualistas, com alto
grau de competitividade e fragilidade de vínculos. Em relação as família,
entendemos que elas são as principais responsáveis por moldar nossa visão sobre
os demais relacionamentos que encontraremos na vida.
"Não ponhas muito os pés na casa do teu próximo; para que se não enfade de ti, e passe a te odiar." (Pv 25.17)
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