O que são Epístolas? Como estudá-las?
Epístolas são literaturas muito comuns nos tempos
antigos. Eram “cartas” de natureza pública ou privada que tinham um propósito
ocasional, ou seja, sua escrita tinha como finalidade atender a uma demanda
específica dos destinatários, seja o encorajamento, exortações, combate aos
falsos mestres, entre outras. Todas as epístolas do NT datam do primeiro século
e são os livros bíblicos “mais próximos” (em termos circunstanciais) de nossa
realidade. Vale considerar que epístolas não são sistematizações de uma teologia,
mas tão somente uma teologia aplicada. Nenhuma epístola, até mesmo a de
Romanos, teve como finalidade sistematizar uma teologia, mas, como já afirmado,
aplicar as verdades de Deus em ocasiões específicas da vida do(s)
destinatário(s).
Líderes da igreja primitiva costumavam usar bastante
esse meio de comunicação, por conta da rapidez, praticidade e baixo custo. Além
de atender as demandas ocasionais de cada igreja, as Epístolas contribuíam no
fortalecimento da autoridade dos verdadeiros líderes (apóstolos e presbíteros)
em detrimento dos falsos que já cedo começaram a surgir. Era comum serem escritas
pelo próprio autor ou, então, por um “amanuense”, que era um escriba capacitado
para redigir o que lhe era ditado.
Epístolas têm um formato bem padrão, observando
poucas exceções, e são compostas por: nome do autor, nome do(s) destinatário(s),
saudação, oração, corpo da mensagem e saudação final/despedida.
Para se entender bem a mensagem de uma epístola,
precisamos fazer dois processos: 1) exegese (o que o autor original quis dizer
para os destinatários originais?); e 2) hermenêutica (o que Deus nos diz hoje
por meio desses livros?). Vejamos:
Exegese de epístolas
Para se entender bem o conteúdo da mensagem
original, é importante que alguns passos sejam seguidos:
1. Descubra o contexto histórico da epístola: para
isso, leia comentários e introduções disponíveis em livros ou bíblias de
Estudo. Tais ferramentas possuem informações valiosas sobre em que situação o
autor e os destinatários se encontravam.
2. De uma “sentada só”, leia toda a epístola e
observe: a) quem são os destinatários?; b) quais as atitudes do autor ao longo
do texto (exortando? consolando? ensinando?); c) observe situações específicas
da epístola (autor introduz um cântico?, narra uma história?); d) observe as
divisões naturais e lógicas da epístola.
3. Veja o contexto literário: separe as partes
divididas e cada parágrafo por temas. Para tanto, duas perguntas são
importantes: “o que está sendo dito?”; “porque está sendo dito?”. Isso se chama
“pensar em parágrafos”.
4. Caso encontre alguma passagem problemática e de
difícil interpretação, busque ajuda de comentários e mestres.
Hermenêutica das epístolas
Encontrar o sentido do texto para os dias atuais é
uma tarefa bem mais complicada do que descobrir o sentido original do texto.
Isso é devido o contexto cultural muito diverso do nosso. Ao lermos qualquer
texto, involuntariamente, usamos nossa “bagagem cultural”, é um ato
involuntário e que traz dificuldades para a boa hermenêutica. Para “escaparmos”
disso, devemos lembrar que é importante separar a mensagem bíblica em duas:
central e periférica. Ou seja, existe um núcleo da qual não podemos flexibilizar
no momento da interpretação, por exemplo: se a leitura de determinado texto está
nos levando para uma negação da trindade, então provavelmente precisaremos rever
onde estamos errando, pois não podemos ir de encontro a todo o contexto bíblico
sobre uma doutrina tão sólida. Fee e Stuart (livro indicado no final) nos dá duas regras de ouro para uma
boa hermenêutica:
1. "Um texto não pode significar aquilo que nunca
significou para seu autor e destinatários originais.” – é a regra da exclusão,
ou seja, a melhor maneira de chegar ao sentido verdadeiro do texto hoje é
EXCLUINDO aquilo que ele nunca quis significar.
2. "Sempre que compartilhamos de circunstâncias
comparáveis á dos destinatários do século I, a palavra de Deus será igualmente
aplicada a nós como foi para eles."
Portanto, não podemos nos dar o luxo de
interpretarmos um texto bíblico ao nosso bel prazer, utilizando qualquer método
que venha a nos induzir ao erro. Epístolas formam boa parte do NT e sua correta
interpretação é fundamental para a saúde da igreja.
OBSERVAÇÃO: esse artigo não tem como objetivo ser um guia completo sobre exegese e hermenêutica de epístolas, mas tão somente uma introdução e noções básicas. Para o leitor que deseja se aprofundar, recomendamos o o clássico livro "Entendes o que lês?", de Gordon Fee e Douglas Stuart (foto abaixo).
Em Cristo,
Thiago Holanda.
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