Por que tantas lideranças cristãs estão emocionalmente doentes?

domingo, 8 de outubro de 2023

Por que tantas lideranças cristãs estão emocionalmente doentes?


 

Nos últimos anos tenho percebido um acontecimento que, infelizmente, tem se tornado cada vez mais comum: crentes saindo das igrejas feridos por lideranças emocionalmente doentes. Líderes que, por ciúmes, incredulidade, amor ao poder ou qualquer outra razão fútil, têm machucado o rebanho do Senhor e ajudado a criar um exército de ressentidos com a igreja.

Já ouvi muitos relatos de amigos que viveram, ou conhecem quem viveu, uma situação de abuso emocional oriunda de uma liderança religiosa. Esse tipo de ferida é uma das mais difíceis de cicatrizar, já que ela nasce dentro de um ambiente que supostamente deveria nutrir amor e cuidado. Um líder cristão é um agente comissionado por Deus para cuidar do rebanho aqui na terra enquanto o Supremo Pastor não retorna, e quando esse cuidado dá lugar ao abuso, dores muito profundas são criadas.

Por que isso acontece? É difícil responder essa pergunta, e talvez sejam necessárias outras opiniões de pessoas mais experientes e maduras que eu. Contudo, recentemente ouvi um pequeno trecho de uma entrevista com um pastor americano (infelizmente, não memorizei o nome e nem o link para recomendar) que afirmava algo muito interessante:

“Liderar”, dizia ele, “é um verbo e não um substantivo. Isso significa que liderar é algo que você faz, mas que não quem você é. Então quem você é? Você é FILHO, e isso sim é um substantivo. Talvez o substantivo mais importante de todos.”

Achei essa abordagem fenomenal. Liderar é algo que fazemos para Deus, mas não é quem SOMOS em Deus. Somos filhos do seu amor. Salvos pela sua eterna graça e perdoados pela sua santa misericórdia. Essa é nossa real identidade.

Contudo, me parece que inúmeros líderes, esqueceram-se disso e hoje incorporam dentro de si um verbo que não tem função de definir quem eles são. “Deus está mais interessado em quem você é, do que no que você faz”, é o que diz Hernandes Dias Lopes. Quando, então, assumimos uma falsa identidade, perdemos o padrão de Deus para nossas vidas e, inevitavelmente, erraremos o alvo.

Não é fácil rastrear a origem disso, mas suspeito que tem a ver com uma falta de prestação de contas. É comum encontrarmos líderes que “reinam” absolutos em suas congregações, sem prestar contas de suas vidas espirituais a ninguém, colocando a si próprios em um pedestal inatingível. Não aceitam confrontação e nem mesmo nenhum tipo de questionamento a respeito da sua “super-santidade”. Supostamente cuidam do rebanho, mas não se permitem ser cuidados.

Essa falta de prestação de contas é extremamente perigosa para a igreja, pois todos nós, independente de nossas posições no reino, somos sujeitos a falha. Em todo o tempo somos desafiados e corrigir a nossa vida diante de Deus.

Um exemplo bíblico válido é o de Saul. Note que o primeiro rei de Israel foi escolhido pelo próprio Deus! É fato que Deus aconselhara o povo a não escolher um rei, mas diante da teimosia de Israel, Deus escolhe Saul. O início da jornada do primeiro rei de Israel foi muito linda. Ele foi escolhido por meio do profeta Samuel. Foi ungido e recebeu um novo coração. Profetizou diante do povo. Ele não começou com o pé esquerdo, pelo contrário, a sua jornada começou muito bem!

Então, o que aconteceu para que tudo desse errado?

Entendo que em algum momento Saul perdeu a noção da sua identidade e isso se destaca em 1 Samuel 13:8-14, quando ele, ao enfrentar os filisteus, “avança o sinal” e faz algo que jamais poderia ter feito: ofereceu holocausto, contrariando diretamente a lei de Deus. A história nos conta que a motivação de Saul era infantil: ele viu o povo se dispersando em meio a uma batalha difícil e, sem paciência para esperar Samuel, oferece sacrifícios como forma de manter o povo unido.

Note que o grande pecado de Saul aqui foi a incredulidade. Ele havia sido escolhido sobrenaturalmente por Deus. Foi miraculosamente transformado em um novo homem e já havia vencido outras batalhas anteriormente. Porém, ele não se lembrou de nada disso no momento da ansiedade e esqueceu-se completamente de Deus. Decidiu basear-se em seus próprios méritos e assumir um papel que a lei de Deus não permitia.

Acredito que em algum momento Saul pode ter pensado: “Poxa, mas eu sou O REI. Qual o problema nisso? Se eu sou o Rei, eu posso o que eu quiser, para que tanta cerimônia?”. Saul tornou-se um líder cego e embriagado pela sua própria soberba. Acreditou que, por conta da sua posição, poderia submeter a lei do Senhor aos seus caprichos e pecou. Ele esqueceu que REINAR era o que Ele fazia, mas que de fato ele não era o rei. Israel tinha outro Rei. Na verdade, Saul era apenas um servo.

Esquecer-se da sua real identidade foi a maior falha já cometida por Saul e ele pagou um preço caro por isso. Nos versículos 13 e 14, Samuel diz:

“Procedeste nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre; Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.”

Um líder jamais pode esquecer sua real identidade de filho. Se esquecermos, cairemos em pecado e causaremos desgraça não apenas a nós mesmos, mas ao povo santo do Senhor.

Se você é um líder e está lendo esse texto, CUIDADO! Não permita que a liderança o deixe cego e sem rumo. Lembre-se que, acima de qualquer outra coisa, você é filho(a) do verdadeiro Rei. Você pode até estar pastoreando o povo de Deus, mas existe um verdadeiro pastor que cuida do seu rebanho, e Ele é Jesus.

Se, por acaso, você é alguém que foi ferido por uma liderança tóxica, saiba que Cristo viu o que você passou e sofreu essa injustiça junto a você. Se doeu em você, doeu muito mais Nele. Há cura para o seu coração ressentido e você não deve culpar a igreja do Senhor por causa de alguns maus representantes. Ore e peça a Deus que envie alguém para sua vida que seja capaz de transmitir, com muito cuidado, o verdadeiro amor de Cristo.

Oro para que esse texto encontre morada em corações que precisam entender que apenas em Cristo temos a nossa verdadeira identidade.

 

Deus te abençoe.

 

Em Cristo,

Thiago Holanda – 08/10/2023.


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