Por que tantas lideranças cristãs estão emocionalmente doentes?
Nos
últimos anos tenho percebido um acontecimento que, infelizmente, tem se tornado
cada vez mais comum: crentes saindo das igrejas feridos por lideranças
emocionalmente doentes. Líderes que, por ciúmes, incredulidade, amor ao poder
ou qualquer outra razão fútil, têm machucado o rebanho do Senhor e ajudado a
criar um exército de ressentidos com a igreja.
Já
ouvi muitos relatos de amigos que viveram, ou conhecem quem viveu, uma situação
de abuso emocional oriunda de uma liderança religiosa. Esse tipo de ferida é
uma das mais difíceis de cicatrizar, já que ela nasce dentro de um ambiente que
supostamente deveria nutrir amor e cuidado. Um líder cristão é um agente
comissionado por Deus para cuidar do rebanho aqui na terra enquanto o Supremo
Pastor não retorna, e quando esse cuidado dá lugar ao abuso, dores muito
profundas são criadas.
Por
que isso acontece? É difícil responder essa pergunta, e talvez sejam necessárias
outras opiniões de pessoas mais experientes e maduras que eu. Contudo,
recentemente ouvi um pequeno trecho de uma entrevista com um pastor americano
(infelizmente, não memorizei o nome e nem o link para recomendar) que afirmava
algo muito interessante:
“Liderar”,
dizia ele, “é um verbo e não um substantivo. Isso significa que liderar é algo
que você faz, mas que não quem você é. Então quem você é? Você é FILHO, e isso
sim é um substantivo. Talvez o substantivo mais importante de todos.”
Achei
essa abordagem fenomenal. Liderar é algo que fazemos para Deus, mas não é quem
SOMOS em Deus. Somos filhos do seu amor. Salvos pela sua eterna graça e perdoados
pela sua santa misericórdia. Essa é nossa real identidade.
Contudo,
me parece que inúmeros líderes, esqueceram-se disso e hoje incorporam dentro de
si um verbo que não tem função de definir quem eles são. “Deus está mais
interessado em quem você é, do que no que você faz”, é o que diz Hernandes Dias
Lopes. Quando, então, assumimos uma falsa identidade, perdemos o padrão de Deus
para nossas vidas e, inevitavelmente, erraremos o alvo.
Não
é fácil rastrear a origem disso, mas suspeito que tem a ver com uma falta de
prestação de contas. É comum encontrarmos líderes que “reinam” absolutos em
suas congregações, sem prestar contas de suas vidas espirituais a ninguém,
colocando a si próprios em um pedestal inatingível. Não aceitam confrontação e
nem mesmo nenhum tipo de questionamento a respeito da sua “super-santidade”. Supostamente
cuidam do rebanho, mas não se permitem ser cuidados.
Essa
falta de prestação de contas é extremamente perigosa para a igreja, pois todos
nós, independente de nossas posições no reino, somos sujeitos a falha. Em todo
o tempo somos desafiados e corrigir a nossa vida diante de Deus.
Um
exemplo bíblico válido é o de Saul. Note que o primeiro rei de Israel foi
escolhido pelo próprio Deus! É fato que Deus aconselhara o povo a não escolher
um rei, mas diante da teimosia de Israel, Deus escolhe Saul. O início da
jornada do primeiro rei de Israel foi muito linda. Ele foi escolhido por meio
do profeta Samuel. Foi ungido e recebeu um novo coração. Profetizou diante do
povo. Ele não começou com o pé esquerdo, pelo contrário, a sua jornada começou
muito bem!
Então,
o que aconteceu para que tudo desse errado?
Entendo
que em algum momento Saul perdeu a noção da sua identidade e isso se destaca em
1 Samuel 13:8-14, quando ele, ao enfrentar os filisteus, “avança o sinal” e faz
algo que jamais poderia ter feito: ofereceu holocausto, contrariando diretamente
a lei de Deus. A história nos conta que a motivação de Saul era infantil: ele viu
o povo se dispersando em meio a uma batalha difícil e, sem paciência para
esperar Samuel, oferece sacrifícios como forma de manter o povo unido.
Note
que o grande pecado de Saul aqui foi a incredulidade. Ele havia sido escolhido
sobrenaturalmente por Deus. Foi miraculosamente transformado em um novo homem e
já havia vencido outras batalhas anteriormente. Porém, ele não se lembrou de
nada disso no momento da ansiedade e esqueceu-se completamente de Deus. Decidiu
basear-se em seus próprios méritos e assumir um papel que a lei de Deus não
permitia.
Acredito
que em algum momento Saul pode ter pensado: “Poxa, mas eu sou O REI. Qual o
problema nisso? Se eu sou o Rei, eu posso o que eu quiser, para que tanta cerimônia?”.
Saul tornou-se um líder cego e embriagado pela sua própria soberba. Acreditou
que, por conta da sua posição, poderia submeter a lei do Senhor aos seus
caprichos e pecou. Ele esqueceu que REINAR era o que Ele fazia, mas que de fato
ele não era o rei. Israel tinha outro Rei. Na verdade, Saul era apenas um
servo.
Esquecer-se
da sua real identidade foi a maior falha já cometida por Saul e ele pagou um
preço caro por isso. Nos versículos 13 e 14, Samuel diz:
“Procedeste
nesciamente, e não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou;
porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;
Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor para si um
homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o Senhor, que seja capitão
sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.”
Um
líder jamais pode esquecer sua real identidade de filho. Se esquecermos, cairemos
em pecado e causaremos desgraça não apenas a nós mesmos, mas ao povo santo do
Senhor.
Se
você é um líder e está lendo esse texto, CUIDADO! Não permita que a liderança o
deixe cego e sem rumo. Lembre-se que, acima de qualquer outra coisa, você é
filho(a) do verdadeiro Rei. Você pode até estar pastoreando o povo de Deus, mas
existe um verdadeiro pastor que cuida do seu rebanho, e Ele é Jesus.
Se,
por acaso, você é alguém que foi ferido por uma liderança tóxica, saiba que
Cristo viu o que você passou e sofreu essa injustiça junto a você. Se doeu em
você, doeu muito mais Nele. Há cura para o seu coração ressentido e você não
deve culpar a igreja do Senhor por causa de alguns maus representantes. Ore e
peça a Deus que envie alguém para sua vida que seja capaz de transmitir, com muito
cuidado, o verdadeiro amor de Cristo.
Oro
para que esse texto encontre morada em corações que precisam entender que
apenas em Cristo temos a nossa verdadeira identidade.
Deus
te abençoe.
Em
Cristo,
Thiago
Holanda – 08/10/2023.