2018

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Estevão e o inconformismo espiritual.





Atos 7.60: “SENHOR, NÃO LHES IMPUTE ESSE PECADO...”

Assim como Jesus, Estevão perdoou verbalmente seus assassinos minutos antes da sua morte. Se pensarmos bem, ele “não precisava” ter feito isso, pois estava convicto da sua salvação (alguns instantes antes ele tinha visto a glória de Deus). Mas, mesmo assim, nos segundos finais da sua jornada, ele queria se parecer um pouco mais com Jesus. Isso nos faz pensar em “inconformismo espiritual”, ou seja: não se contentar com seu atual estado de espiritualidade e querer sempre aprender e buscar mais de Deus.

Porque Deus permitiu que Estevão morresse de forma tão cruel?

A morte para um cristão sempre será um alívio dos fardos desse mundo. A Bíblia diz que a morte de um justo alegra o coração do Senhor (Sl 116.15), pois esse servo será recebido na eternidade para um relacionamento perfeito com seu Criador. Além disso, a morte de Estevão o honrou, pois ele foi inserido na história da igreja e seu martírio tem edificado crentes de todo o mundo desde então.

O que podemos aprender com Estevão?

Duas coisas:

1. Buscar a todo custo ser mais parecido com Jesus. Jamais abandonemos esse objetivo.

2. Perdoar aqueles que nos ofendem é uma atitude que nos torna mais parecidos com Jesus.

Será que preciso perdoar alguém?


Em Cristo,
Thiago Holanda
06/08/2015.


quinta-feira, 5 de abril de 2018

A gratidão e o teste do tempo




Lendo as passagens de 1 Samuel 11.1-11 e 1 Samuel 31.11-13, aprendo sobre Gratidão.

As duas passagens narram dois episódios muito diferentes da vida do Rei Saul. Na primeira, vemos o começo do seu reinado onde confrontado pelos amonitas, que ameaçavam o povo de Jabes-Gileade, foi tremendamente usado pelo Espírito Santo e conquistou uma bela vitória, humilhando os inimigos do povo de Deus. Na segunda passagem, vejo um contexto muito diferente. Depois de muita desobediência ao Senhor e descontrole emocional, o seu governo estava ameaçado e sofrendo fortes ataques externos, terminando com uma amarga derrota pelos filisteus, que o fez tirar a própria vida.

Mas o que me chamou à atenção foi a atuação do povo de Jabes-Gileade nesses dois momentos. Na primeira narrativa, foram salvos pelo Rei de um ataque brutal dos inimigos. Cerca de 40 anos depois, souberam demonstrar respeito e gratidão a Saul empreendendo uma missão perigosíssima para resgatar o corpo do Rei no meio da noite, dentro do terreno inimigo e o darem um sepultamento digno da realeza.

O povo de Jabes-Gileade soube ser grato ao Rei, independente do quanto ele tenha se afastado e sido rejeitado pelo próprio Deus, isso nos leva a uma reflexão: temos sido gratos a Deus? Por quanto tempo as bênçãos de Deus ficam registradas em nossa memória? 

O povo de Jabes-Gileade guardou na memória por 40 anos, e você?

Geralmente, tendemos a esquecer muito rapidamente os bons feitos que os outros nos fazem, e com relação a Deus não é diferente. Gostamos muito de reclamar das pequenas provas do presente e esquecermos os grandes feitos Dele no passado.

Então, como podemos demonstrar maior gratidão ao Senhor? Creio que nossas atitudes e palavras são fundamentais, e o salmista declara: “meditarei também em todas as tuas obras, e falarei dos teus feitos.” (Salmo 77.12). Você precisa não só reconhecer tudo que Deus fez (e faz) por você, mas anunciar aos outros, como prova de que Ele é fiel a todos que o buscam. Esquecer dos benefícios de Deus é o mesmo que se esquecer Dele próprio. Quantas vezes não fazemos isso?

Lutar contra o pecado também é uma prova de gratidão ao Senhor, principalmente, pelo maior de todos os Seus feitos: a morte de seu filho Jesus para nos salvar. Ao me render aos prazeres superficiais do pecado, estou sendo ingrato a Deus.

Lembre-se continuamente de todos os feitos de Deus por você! Como? Uma dica prática: anote-os! Isso mesmo, guarde consigo um bloco de notas, agenda, ou qualquer outra coisa onde você possa registrar tudo isso. Não confie em sua memória, ela sempre falha. Que tal começar agora? O que Deus fez por você ao longo do ano passado?

Os cidadãos de Jabes-Gileade guardaram gratidão por 40 anos a um homem. Por quanto tempo você guardará gratidão a Deus?


Em Cristo.

Thiago Holanda.


sábado, 31 de março de 2018

A Jornada dos Magos (por T.S. Eliot)




T.S Eliot foi um conhecido poeta americano, Nobel de Literatura em 1948. Esse poema em si é uma fantástica perspectiva que o autor nos dá sobre os reis que visitaram o nascimento de Cristo. A última estrofe, em especial, pode nos levar a profundas reflexões.

A Jornada dos Magos (T. S. Eliot)
Tradução: Ivan Junqueira

Foi um frio que nos colheu
Na pior quadra do ano
Para uma viagem, e longa era a viagem:
Os caminhos enlameados e o tempo adverso
Em pleno coração de inverno.”
E os camelos escoriados, o casco em chagas, indóceis,
Jaziam em meio à neve derretida.
Foram momentos em que recordamos
Os palácios estivais sobre os penhascos, os terraços,
As sedosas meninas que nos traziam afrodisíacos.
E depois os cameleiros que imprecavam e maldiziam
E desertavam, e exigiam fêmeas e aguardente.
E os fogos da noite em bruxuleio, a falta de apriscos,
As cidades hostis, as vilas inóspitas,
As aldeias sujas e tudo a preços absurdos.
Foi uma rude quadra para nós.
Ao fim preferimos viajar à noite
Dormindo entre uma e outra vigília,
Com vozes que cantavam em nossos ouvidos, dizendo
Que aquilo tudo era uma loucura.

E eis alcançamos pela aurora um vale ameno,
Úmido, sob a linha da neve, impregnado de aromas silvestres,
Com o regato e um moinho a fustigar as trevas,
E três árvores recortadas contra o céu baixo,
E um velho cavalo branco a galope pelo prado.
E chegamos depois a uma taverna com parras sobre as vigas;
Seis mãos se viam pela porta entreaberta
A disputar peças de prata com seus dados,
E pés que golpeavam os odres já vazios
Mas nenhuma informação nos deram, e então seguimos
Para chegarmos ao crepúsculo, sequer um instante antes,
E encontrarmos o lugar; foi (podeis dizer) satisfatório.

Tudo isso há muito tempo se passou, recordo,
E outra vez o farei, mas considerai
Isto considerai
Isto: percorremos toda aquela estrada
Rumo ao Nascimento ou à Morte? Um nascimento, é certo,
Tínhamos prova, não resta dúvida: um nascimento e morte contemplei,
Mas os pensara diferentes; tal nascimento era, para nós,
Amarga e áspera agonia, como a Morte, a nossa morte.
Regressamos às nossas plagas, estes Reinos,
Porém aqui não mais à vontade, de acordo com a antiga ordem divina,
Onde um povo estranho se agarra aos próprios deuses.
Uma outra morte me será bem vinda.

Original:

The Journey of the Magi

A cold coming we had of it,
Just the worst time of the year
For a journey, and such a long journey:
The was deep and the weather sharp,
The very dead of winter."
And the camels galled, sore-footed, refractory,
Lying down in the melting snow.
There were times we regretted
The summer palaces on slopes, the terraces,
And the silken girls bringing sherbet.
Then the camel men cursing and grumbling
And running away, and wanting their liquor and women,
And the night-fires gong out, and the lack of shelters,
And the cities hostile and the towns unfriendly
And the villages dirty, and charging high prices.:
A hard time we had of it.
At the end we preferred to travel all night,
Sleeping in snatches,
With the voices singing in our ears, saying
That this was all folly.

Then at dawn we came down to a temperate valley,
Wet, below the snow line, smelling of vegetation;
With a running stream and a water-mill beating the darkness,
And three trees on the low sky,
And an old white horse galloped away in the meadow.
Then we came to a tavern with vine-leaves over the lintel,
Six hands at an open door dicing for pieces of silver,
And feet kicking the empty wine-skins.
But there was no information, and so we continued
And arrived at evening, not a moment too soon
Finding the place; it was (you may say) satisfactory.

All this was a long time ago, I remember,
And I would do it again, but set down
This set down
This: were we lead all that way for
Birth or Death? There was a Birth, certainly,
We had evidence and no doubt. I have seen birth and death,
But had thought they were different; this Birth was
Hard and bitter agony for us, like Death, our death.
We returned to our places, these Kingdoms,
But no longer at ease here, in the old dispensation,
With an alien people clutching their gods.
I should be glad of another death.



sábado, 24 de março de 2018

Dicas para uma aula relevante na sua Escola Bíblica




Paulo disse que os vocacionados para o ensino devem dedicar-se a essa valorosa tarefa. Você provavelmente deve amar o ministério do ensino e talvez seja por isso que você esbarrou nesse artigo. Contudo, ensinar tem exigido cada vez mais dos professores por dois motivos: primeiro, o crescimento geral do nível de escolaridade da população, especialmente entre os mais jovens; segundo, pelo volume massivo de informações disponível em sites e livros que, por um lado é bom (veremos isso mais a frente), mas por outro lado nos obriga a gastar tempo na filtragem de materiais de pesquisa.
Pensando nisso, nós professores precisamos ter um planejamento de ensino adequado a essas novas demandas, algo FUNDAMENTAL para a saúde da igreja. Por isso, gostaria de dar algumas dicas que considero importantes para o bom andamento do ensino na sua sala:
1) Seja antecipado: adquira o material do período curricular, geralmente trimestral, com bastante antecedência. As editoras denominacionais costumam construir a matriz curricular para o ano inteiro e já colocam as revistas para a aquisição bem antes do período. É bom sempre estar adiantado, especialmente quando há temas complexos, que com apenas uma semana de estudo (entre os domingos) não é possível elaborar uma aula relevante.
2) Use material complementar: no primeiro parágrafo falei que o aumento dos meios de acesso a informações tem um aspecto positivo. Me refiro a esse ponto. Hoje não temos desculpas para não usar leituras adicionais, ou mesmo fazer cursos com outros professores por meio de vídeo-aulas no YouTube, por exemplo. Há uma imensidão de informações disponíveis para pesquisa complementar e devemos fazer uso das mesmas.
3) Elabore um esboço e, se possível, disponibilize-o aos alunos: planejar a aula por escrito por meio de um roteiro é tão importante quanto fazer o mesmo para uma pregação. Escrever o esboço da aula apresenta uma série de vantagens para o professor, e, se ele organizar esse plano de maneira apresentável, poderá servir de material complementar para o aluno.
4) Faça revisão do conteúdo: um dia antes da sua aula não é o momento da preparação, mas da revisão. Ou seja, é hora de reler seu esboço e relembrar das conexões entre os pontos da aula, tentando encontrar alguma incoerência ou conceito mal apresentado. Não fuja disso. Sei que muitos de nós, depois de prepararmos a aula inteira, preferimos ir para outras atividades e só voltar aquele assunto no dia da apresentação, mas revisar é fundamental para a segurança do professor em sala de aula.
5) Faça atividades de fixação: no final da aula, procure métodos ou exercícios de fixação. Não me refiro a questões abertas e bobas sobre o conteúdo da aula, mas atividades em que o aluno possa interagir com aquilo que ele acabou de aprender. Pode ir desde a desafiá-los a ir a frente e apresentar, com suas próprias palavras, o conceito aprendido, até o convite para elaborar um pequeno texto sobre aquele assunto, quem sabe valendo algum tipo de premiação para os que cumprirem a tarefa.
O “Cone da Aprendizagem” (imagem abaixo) foi desenvolvido por William Glasser e traz uma verdade bem interessante: quanto maior a interação do aluno com o conteúdo, maior a absorção. Assim, atividades mais passivas, tais como ler, ouvir e ver imagens, costumam ser menos produtivas do que outras como escrever e falar.


Meu desejo é que nós possamos lutar cada vez mais pela qualidade do ensino bíblico em nossas igrejas. Essa luta é de cada professor e aluno de qualquer igreja. Enquanto mantivermos uma atitude séria no ensino, cresceremos mais e mais no conhecimento salvífico e nos protegeremos melhor contra os enganos desse mundo.


Em Cristo,
Thiago Holanda.
21 de Março de 2018.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Filhos ou Bastardos?



Todos já ouviram o seguinte dizer: "Eu também sou filho de Deus", ou então "Fulano de tal também é filho de Deus". Mas, o que de fato nos torna filhos de Deus? Será que, realmente, todos podem reivindicar essa filiação? A Bíblia nos mostra que nem todas as pessoas são filhas do Criador, pois existem algumas condições básicas a serem cumpridas para conseguirmos essa posição e a mais fundamental delas está em João 1.12, que diz: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome". Assim, o primeiro passo para se tornar membro da família de Deus é receber a Jesus como salvador.

Entretanto, essa não é a única condição para que façamos parte da família de Deus, em Hebreus 12.8 há uma passagem muito interessante sobre o assunto:

"Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos." 

Essa passagem nos mostra a importância da disciplina (exortação) de Deus. Quando cremos em Cristo, devemos entregar o controle de nossas vidas a Ele, não tomemos decisões baseadas em nossa própria vontade, mas na vontade do nosso Pai ou, nas palavras do Apóstolo Paulo: "vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.20b). Ora, como todo pai que ama, Deus nos corrige de nossos erros, às vezes pelo amor, às vezes pela dor.

Infelizmente nossa natureza pecaminosa e persistentemente maligna exige que o Senhor precise ser duro conosco, nos mostrando que precisamos tomar a direção que ELE quer!


É fato que aceitar exortações de Deus não é nada fácil, pois fere nosso orgulho e nos lembra o quão pequenos e frágeis somos. Nossa atitude nessas circunstâncias é fundamental: devemos reconhecer nosso erro e agradecer a Deus pela sua disciplina, pois nos mostra o quanto Ele nos ama (Hebreus 12.6). É triste, porém, ver que tantos não reconhecem isso, e culpam outros por seus infortúnios, geralmente apontando como alvos suas igrejas, seus irmãos em Cristo, família e, em alguns casos extremos, culpam o próprio Deus, esquecendo-se de que suas próprias escolhas trouxeram seus problemas. A Palavra do Senhor nos diz, no versículo citado no parágrafo anterior, que se agirmos com ingratidão diante dos ensinamentos do Pai, perdemos nossa condição de filhos e nos tornamos meros bastardos (filhos indesejados ou degenerados).

Devemos ter em mente que a vida cristã é um processo contínuo de mudança e amadurecimento. Deus sempre está nos moldando, com o objetivo de nos tornar servos mais humildes.

Certa feita vi uma frase que chamou a minha atenção: "A maior evidência de que Cristo transformou sua vida é que Ele ainda continua transformando, e se ele não continua transformando, então provavelmente essa transformação nunca existiu!" Resta-nos receber tudo que vem de Deus com amor, ainda que isso venha a ferir nosso orgulho ou nos trazer um passageiro sofrimento, nossa fé deve acreditar que tudo faz parte do maravilhoso plano de Deus para nossas vidas. 


Em Cristo,

Thiago Holanda

07/10/2011.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Nunca exija consideração: ou você tem, ou não.



Consideração é a ação de considerar. Todos exigimos e gostamos de receber a consideração alheia. Vários conflitos surgem em ambientes de trabalho, igreja e até na família por reclamações do tipo “você não tem consideração por mim!” e, com isso, mágoas e revanchismos são alimentados. Mas o que é considerar?

No dicionário encontramos alguns significados. Vejamos:

1-                     Olhar(-se), fitar(-se) com atenção e minúcia: considerar é observar QUEM É aquela pessoa e qual papel ela desempenha na sua vida, seja pequeno ou grande. Humilhar alguém é considerá-la inferior ao que realmente ela é para você, e exaltar é atribuir um papel superior ao que de fato ela possui. Ambas as posturas são negativas.

2-                     Respeitar: é a consequência lógica do primeiro passo. Quando olho com atenção e pondero sobre quem aquela pessoa é na minha caminhada, vou tê-la em alta ou baixa consideração. Por favor, entenda: baixa consideração não é algo ruim, não é desrespeitar, mas entender que aquela pessoa tem pouca participação na sua caminhada. Pode ser um vizinho com quem você pouco conversa, ou um familiar que sempre morou longe e você nunca conheceu. Enfim, considerar pouco não é respeitar pouco, mas entender os papéis que cada um desempenham na sua história.

Dito isto, precisamos ter algo muito fixo na mente: consideração não pode ser exigida, ou você a tem da maneira correta, ou não! Por quê? Simples: a consideração correta (ou errada) que a pessoa vai ter de você é fruto de uma reflexão que ela própria já fez, e você não pode interferir nesse processo. Por vezes julgamos exercer um papel significativo na vida de alguém, mas esse alguém não enxerga da mesma forma. Isso é o centro da maioria dos conflitos.

Nossas expectativas quanto ao que consideramos ser nosso papel na vida alheia são frustradas quando o outro, após refletir sobre nós, decide nos dar pouca consideração. Isso machuca. Somos feridos por essa decisão do outro. Achamos que merecemos mais e, geralmente, ligamos um sistema de defesa infantil do tipo “é, eu nem ligo mesmo!”, mas só que ligamos sim, e muito, afinal, temos aquela pessoa em alta consideração.

Porém, nunca exija isso. Se você acha que merece, mas não tem a alta consideração do outro. Não exija. É difícil, eu sei. Muito difícil mesmo, mas a verdadeira consideração nunca nasce de exigência, mas de reflexões espontâneas do próximo e quando isso não acontece, vamos entender que nosso papel ainda não é significativo para o outro e, ainda que isso doa, nos amadurece em muita coisa.

Em Cristo,
Thiago Holanda.
27/02/2018.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Quando uma geração não conhece o Senhor (Juízes 2.10-12)




Depois que toda aquela geração foi reunida a seus antepassados, surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel. Então os israelitas fizeram o que o Senhor reprova e prestaram culto aos baalins. Abandonaram o Senhor, o Deus dos seus antepassados, que os havia tirado do Egito, e seguiram e adoraram vários deuses dos povos ao seu redor, provocando a ira do Senhor. (Jdg 2:10-12)

Quando o povo de Israel entrou na terra prometida, receberem uma ordem clara e direta de que deveriam expulsar todos os seus moradores, sem exceção. A tribo que foi comissionada para começar essa empreitada foi Judá. No início, as ordens foram obedecidas e os cananeus sofreram grande derrotas. O capítulo 1 de Juízes mostra o início feliz de uma história que tem um final bem triste.

O problema começou quando os Israelitas perceberam que, em vez de expulsar os cananeus, era mais lucrativo tributá-los. “Pra que o desgaste da guerra?”, pensaram eles. Cobrar pesados impostos era “conveniente”, pois além de poupar os esforços de batalha, trazia o benefício do ganho financeiro. Foi o que fizeram. Sobre esse episódio, Flávio Josefo[1] acrescenta:

Os israelitas deixaram então de fazer guerra, desejando apenas desfrutar em paz e com prazer os muitos bens de que se viam cumulados. Sua abundante riqueza lançou-os no luxo e na volúpia. Não se incomodavam mais em observar a antiga disciplina e tornaram-se surdos à voz de Deus e às suas santas leis. Assim, atraíram-lhe a cólera, e Ele lhes fez saber que era contra a sua ordem que eles poupavam os cananeus e que tempo viria em que, no lugar da bondade dispensada aos cananeus, experimentariam a crueldade deles.

Foram muitos os problemas futuros que essa má decisão causou. Primeiro, os cananeus tornaram-se motivo de laço para Israel, no sentido de contaminar o coração do povo A proximidade geográfica da nação eleita com esses povos gerou uma venenosa comunhão de culturas e costumes que os levou a idolatria. O quadro piora muito a partir do capítulo 2, onde narra a morte de Josué e toda a geração que ele tinha liderado. Começa então o declínio total da nação, pois “surgiu uma nova geração que não conhecia o Senhor e o que ele havia feito por Israel”.

Note que é uma dupla ignorância. Primeiro, não conheciam a Deus: sua pessoa, caráter, atributos, santidade, etc. Ou seja, não tinham relacionamento com o Senhor. Segundo, não conheciam o que ele havia feito. Há pessoas que sabem o que Deus fez, ainda que não se relacionem com Ele. Reconhecem seus feitos, ainda que os corações estejam distantes. Aqui vemos que nem mesmo esse aspecto estava presente. Era uma ignorância tanto da pessoa de Deus, quanto de todos os livramentos e operações milagrosas do passado.

Isso trouxe horríveis consequência para o povo. Vejamos:

1.    “os israelitas fizeram o que o Senhor reprova e prestaram culto aos baalins”: afastar-se de Deus leva, necessariamente, à idolatria. É impossível um homem deixar os caminhos de Deus e permanecer “neutro” espiritualmente. O homem é essencialmente religioso e quando Deus não está no trono do seu coração, um ídolo já fez morada.

2.    “adoraram vários deuses dos povos ao redor, provocando a ira do Senhor”: Como Deus previa, os ídolos dos cananeus roubaram o coração do povo, por descuido deles próprios. Então, a ira do Senhor se ascendeu contra o seu próprio povo e a profecia de Juízes 2.3 se cumpriu: os deuses estranhos tornaram-se uma armadilha mortal.

Quando uma nova geração tem o coração distante de Deus, temos que encontrar as raízes do problema na geração anterior. Note que a falha da antiga geração não se resumiu a não se afastar do mal por meio da desobediência da ordem de Deus, mas também de não se aproximar suficientemente de Deus para conhecê-lo mais e fazê-lo conhecido entre seus filhos. A nova geração não conhecia a Deus porque não fora discipulada corretamente. Os pais não contaram aos seus filhos quem era o Senhor e o que ele fizera.

A culpa da antiga geração foi dupla: não afastar a má influência (outros povos) e não ensinar a próxima geração. Essa falha do povo de Israel inaugurou uma triste história de altos e baixos do povo, onde ora o povo servia fielmente a Deus, ora se afastava em direção aos ídolos. É o triste padrão do Antigo Testamento.

Essa falha pode nos ensinar muito como igreja hoje. Como estamos educando as novas gerações? Qual importância estamos dando ao discipulado dos mais jovens na igreja local? Nossa luta pelo evangelho hoje vai determinar não somente o presente da igreja, mas o futuro também. Paulo conhecia a história de Israel e provavelmente tinha essa preocupação em mente quando deu os seguintes conselhos:

Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada. (Tito 2:4,5)

E as coisas que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar a outros. (2 Timóteo 2:2)

Paulo se preocupava com a importância de passar o bastão do evangelho para a próxima geração. Mais velhos ensinando os mais novos é parte da dinâmica da igreja e não podemos negligenciar isso sob o risco de colocar todo o atual trabalho pelo reino em risco. Para encerrar esse texto, deixo o conselho do profeta Oseias:

Conheçamos o Senhor; esforcemo-nos por conhecê-lo...” (Oséias 6:3)

Em Cristo,
Thiago Holanda.
24/02/2018.






[1] Historiador judeu, na coletânea “História dos Hebreus”, livro quinto, capítulo 2.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A lealdade de Itai (2 Samuel 15.19-22)



Uma vez ouvi um provérbio popular bem interessante que dizia: “Quer conhecer um homem? Dê-lhe poder. Quer conhecer os verdadeiros amigos de um homem? Tire-o do poder!”. A infelicidade trás consigo o mérito de revelar quem são os nossos verdadeiros amigos, e os homens mais sábios do mundo já deram prova disso (Provérbios 17.17).

Um homem cuja história muito nos ensina a esse respeito é Itai, um personagem bíblico que aparece muito rapidamente na história de Israel, mas que demonstra um caráter forte e real integridade. Ele era Geteu[1] e havia apoiado a ascenção de Davi ao trono de Israel, seu nome significa “comigo”[2], e não temos muitas informações além dessas. Vamos ao contexto do seu aparecimento.

Absalão fora perdoado por Davi da morte de Amnom e volta para Jerusalém. Depois de 2 anos, é autorizado a encontrar-se com seu pai e então começa uma campanha silenciosa e mortal para usurpar o trono. Quando consegue concretizar o levante, Absalão surpreende Davi e o faz fugir vergonhosamente de Jerusalém. É nesse contexto que a Bíblia narra a seguinte cena:

O rei disse então a Itai, de Gate: "Por que você está indo conosco? Volte e fique com o novo rei, pois você é estrangeiro, um exilado de sua terra. Faz pouco tempo que você chegou. Como eu poderia fazê-lo acompanhar-me? Volte e leve consigo os seus irmãos. Que o Senhor o trate com bondade e fidelidade! " Itai, contudo, respondeu ao rei: "Juro pelo nome do Senhor e por tua vida que onde quer que o rei, meu senhor, esteja, ali estará o seu servo, para viver ou para morrer! " Então Davi disse a Itai: "Está bem, pode ir adiante". E Itai, o giteu, marchou, com todos os seus soldados e com as famílias que estavam com ele. (2 Samuel 15:19-22, NVI)

Note que Davi não exigiu que Itai fizesse a difícil escolha de seguí-lo. Sim, era uma escolha difícil, pois esse episódio marca o início de uma guerra sangrenta entre Davi e Absalão. Tomar partido por Davi era uma escolha que tornaria qualquer um imediamente inimigo de Absalão. Davi o dispensou disso e ainda lembrou: “você é estrangeiro aqui, não tem obrigação legal de ser fiel ao meu reinado!”. Contudo, a resposta de Itai é impressionante: “Seguirei-te para viver ou para morrer!”. Que amizade! Que fidelidade! Imagino o alento que veio ao coração de Davi naquele momento de tanta angústia. “Ainda tenho amigos!”, talvez seja isso o que ele tenha pensado.

A fidelidade de Itai foi recompensada no futuro. Quando venceu a guerra contra Absalão e recuperou o trono, Davi o nomeou comandante de um terço de seu exército (2 Samuel 18.2,5,12). Não sabemos muito sobre o que aconteceu com ele depois desses acontecimentos.

O que podemos aprender com Itai? Além do precioso exemplo de amizade e fidelidade, vemos uma ligação simbólica entre a relação dele com o Rei Davi e a nossa com Cristo, o Rei dos reis. Itai era um exilado que viu o rei que o “adotou” ser desprezado e escurraçado do seu próprio reino por homens ímpios. Contudo, Itai confiava em seu rei e mesmo sabendo que o futuro poderia ser doloroso pelos próximos meses de guerra, o seu rei retornaria ao trono vitorioso. Itai somos cada um de nós. Nosso rei foi desprezado pelo mundo e sua mensagem foi ridicularizada. Homens impiedosos o massacraram e tentaram frustrar seus planos, contudo, ele venceu! Sim, Jesus venceu! A vitória já foi alcançada. Porém, ainda vivemos temporariamente como exilados enquanto nosso Rei não encerra todas as coisas. Ainda enfrentamos sofrimentos nessa terra e nossa vida carregará fardos dolorosos. Enfim, aguardamos confiadamente que o Rei voltará pra nos levar de volta pra casa e então todos o verão assentado em seu trono manjestoso.

A lição de Itai nos ensina sobre amizade e fidelidade ao próximo em momentos de angústia, mas também nos mostra que devemos permanecer fiéis ao Rei dos reis, custe o que custar, pois Ele já venceu a guerra!


Em Cristo,
Thiago Holanda.
19/02/2018.





[1] Geteus eram soldados mercenários de Gate. Ou seja, filisteus. Haviam apoiado e se juntado a Davi.
[2] De acordo com o “Brown-Driver-Briggs'  Hebrew Definitions”