Não somos donos de ninguém

domingo, 7 de janeiro de 2018

Não somos donos de ninguém



Em 1996, Jim Carrey atuou no filme “The Cable Guy” (‘O Pentelho’, em português). Nessa comédia, ele faz o papel de um instalador que recebe a proposta de burlar o sistema e colocar alguns canais a mais na casa de um cliente por uma propina de 50 dólares. Por ser um cara extremamente solitário, o personagem entende essa proposta como um convite para a formação de uma nova amizade e, a partir daí, começa a “sufocar” o cliente oferecendo uma “amizade” extremamente invasiva, o que acaba gerando uma série de problemas e assim segue o desenrolar do filme.

O interessante do filme é lembrar de personagens reais que fizeram (ou fazem) parte da nossa vida e oferecem um tipo de amizade muito parecida. O excesso de carência emocional (muitas vezes oriunda de uma família desestruturada, ou das complicações de se viver numa grande metrópole, ou ambas[1]) de algumas pessoas as faz depositarem toda a esperança de alegria, segurança e conforto num semelhante que jamais poderá atender essas expectativas. Pessoas assim parecem querer tomar posse de tal maneira da vida dos outros que as mais insignificantes atitudes podem causar as maiores confusões.

O nome disso é “dependência emocional”, ou seja, é ancorar o barco da minha vida no porto errado. É achar que minha alegria só poderá ser satisfeita se aquela determinada pessoa se tornar uma marionete dos meus mais obscuros desejos. Por favor, entenda: isso não é amor, é escravidão. Um dependente pode ser alguém naturalmente calmo e pacífico, mas que se transtornará, caso encontre seu ídolo descumprindo seus ditames.

A maior lição que um dependente precisa aprender é a de que não somos donos de ninguém, mas parceiros de viagem. A compreensão mais correta, no meu entender, de amizade, é a de que só poderemos caminhar com alguém se estivermos dispostos a olhar para ela“de lado”. Pois olhar “de cima” ou “de baixo” é doentio e jamais será amizade verdadeira, mas possessão e escravidão.

Já acompanhei quem vive assim e superar isso é um desafio e não quero passar a imagem de que lidar com esse problema seja fácil, jamais! Mas quero abrir os olhos para entendermos que nossa vida necessita de um singificado eterno e isso só pode ser alcançado se ancorarmos em Cristo, nosso verdadeiro amigo, o único a quem estamos autorizados a olhar “de baixo”, ainda que Ele se coloque ao nosso lado.

Confiando nisso, teremos libertação de todo cativeiro relacional e viveremos os verdadeiros desfrutes que somente uma boa amizade pode dar.

Em Cristo,
Thiago Holanda.




[1] Não quero me estender nesse tópico, mas grandes metrópoles tendem a transformar os relacionamentos e levar pessoas a cultivarem valores individualistas, com alto grau de competitividade e fragilidade de vínculos. Em relação as família, entendemos que elas são as principais responsáveis por moldar nossa visão sobre os demais relacionamentos que encontraremos na vida.


Um comentário :

  1. "Não ponhas muito os pés na casa do teu próximo; para que se não enfade de ti, e passe a te odiar." (Pv 25.17)

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