setembro 2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Verdade e aprovação dos outros! (por Timothy Keller)


    Alguns livros nos presenteiam com palavras preciosas e ministram muito ao nosso coração com trechos que são poderosamente usados pelo Espírito Santo para nos tocar.
    Estou terminando de ler o livro Gálatas para você (imagem abaixo) do Timothy Keller, e fui abençoado com um pequeno trecho muito lindo. Para não desfrutar disso sozinho, compartilho com você, meu amado leitor.

"O evangelho nos liberta da necessidade da aprovação e adoração alheias, de modo que podemos confrontar e irritar as pessoas que amamos, se for o melhor para elas. Embora nem sempre funcione, esse é o único tipo de comunicação que transforma de fato as pessoas. Se você ama alguém de maneira tão egoísta que não consegue correr o risco de se expor à sua raiva, jamais lhe dirá a verdade que ela precisa ouvir. Se, por outro lado, você diz a uma pessoa a verdade que ela necessita ouvir, mas com rispidez e sem a angústia de quem ama, ela não lhe dará mais ouvidos.
Se, no entanto, ao falar a verdade, seu discurso é acompanhado de verdadeiro amor, há grande possibilidade de que ele penetre o coração alheio e cure. O ministério fundamentado no evangelho é mercado pela sinceridade amorosa, não pela distorção dos fatos, pela preocupação com a imagem e pela adulação.
Esse tipo de ministério do evangelho é oneroso para o ministro. Nem sempre é fácil para quem está recebendo a ministração. Mas baseia-se na verdade, aponta para Cristo e vale a pena, por toda a eternidade. (...)"
Referência:
KELLER, Timothy. Gálatas para você.  São Paulo: Vida Nova, 2015.


Em Cristo,
Thiago Holanda.


segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A Justificação pela Fé em Gálatas 2.15-21.






Observação: esse artigo foi escrito como trabalho de conclusão da

A epístola aos Gálatas representa uma incisiva defesa do evangelho. Paulo, usando sua perspicácia teológica, faz uma defesa bem elaborada da verdadeira salvação em Jesus Cristo. Mas, o que estava acontecendo para que essa defesa fosse necessária?
No primeiro século da era cristã existiam duas igrejas fortes e dinâmicas: Jerusalém e Antioquia. A primeira, predominantemente judaica, possuía grande prestígio, por ser a sede do próprio judaísmo e onde estavam a maioria dos apóstolos. Antioquia era predominantemente gentílica e crescia bastante, basta observar que Paulo e Barnabé eram missionários desta igreja. Ao ver o crescimento acelerado do evangelho em Antioquia, alguns membros da igreja de Jerusalém foram visita-la e começaram a constranger os gentios a seguir rituais do judaísmo, como a circuncisão. Paulo e os lideres, ao serem informados do fato, foram para Jerusalém a fim de realizarem o primeiro concílio da igreja e discutir essa matéria, o que é narrado em Atos 15.
O concílio foi unânime: somente a fé em Jesus Cristo salva. Decidida a questão, enviaram Paulo e Barnabé para inúmeras igrejas com o propósito de tratar desse assunto e comunicar a decisão do concílio. Contudo, enquanto Paulo e Barnabé seguiram um caminho, os judaizantes seguiam outro e começaram também a visitar algumas igrejas, a fim de “judaizá-las” e atacar a figura do apóstolo Paulo. Uma dessas igrejas foi a da Galácia. Paulo, então, ouvindo que o desvio doutrinário chegara aos gálatas, redige essa epístola e, com um tom ácido, exorta os irmãos a voltarem para o verdadeiro evangelho.
Inúmeros argumentos, apelos e explicações são desenvolvidas pelo apóstolo ao longo da epístola. Nesse artigo, queremos abordar sobre um dos trechos, onde o apóstolo trata especificamente sobre uma das doutrinas centrais do cristianismo, a justificação pela fé. Vejamos:
Gálatas 2:15-21
(15)  Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios,
(16)  sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim, pela fé em Cristo Jesus, temos também crido em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da lei; pois por obras da lei nenhuma carne será justificada.
(17)  Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De modo nenhum.
(18)  Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor.
(19)  Pois eu pela lei morri para a lei, a fim de viver para Deus.
(20)  Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
(21)  Não faço nula a graça de Deus; porque, se a justiça vem mediante a lei, logo Cristo morreu em vão.

O contexto dessa passagem é a narrativa de Paulo acerca de uma discussão com Pedro, onde este, de forma dissimulada, se afastou da comunhão com os gentios por conta da chegada de um grupo de judaizantes. Paulo, então, repreendeu-o publicamente, passando a discursar sobre a justificação pela fé. Analisemos o conteúdo da mensagem:

- versos 15,16: Paulo estava lembrando que eles, judeus convertidos a Cristo, já tinham conhecimento de que as obras da lei não justificavam nenhum homem diante de Deus. É como se Paulo quisesse dizer: “Nós sempre nos achamos melhores que os gentios pecadores, pois éramos o povo escolhido, mas agora a mensagem do evangelho nos impactou profundamente, pois descobrimos que somos pecadores iguais a todos os outros, e que a obediência a lei não salva ninguém”. Paulo estava preparando o terreno para dizer: se nós já sabemos de onde provém nossa salvação, porque iríamos impor o jugo desnecessário da lei sobre os gentios?
- verso 17: Esse verso é complexo e possui muitas interpretações. Hendrinksen[1] diz que Paulo estava fazendo uma pergunta retórica, ou seja: “se” os Judaizantes estivessem corretos na necessidade de observância da lei, Cristo faria com que os homens pecassem, pois foi o próprio que, em vários momentos, ensinou a justificação somente pela fé. Cristo disse que não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai (Mt 15.1-20), que todos os alimentos são limpos (Mc 7.19) e que os homens são salvos somente por confiar nele (Mt 11.25). Seria um absurdo afirmar tal coisa.
- verso 18: ‘aquilo que destruí’ é a salvação baseada nas obras da Lei. Assim, se voltarmos a vida pregressa e acharmos que nossos méritos podem configurar posição de justiça diante de Deus, então, na verdade, estou me tornando, novamente, um transgressor.
- verso 19: para entender bem esse verso, é mister lembrarmos que Paulo foi um judeu exemplar, no sentido de que sua observância da lei era destaque entre os seus semelhantes em tempos de farisaísmo. Em Filipenses 3.6 ele diz que sua conduta, quanto à justiça que há na lei, era irrepreensível. Contudo, Paulo considerou tudo isso como nada, pois ao ter encontro com a graça de Cristo entendeu que era o principal dos pecadores e que somente por meio de Jesus era possível alcançar paz com Deus. Ou seja, somente “morrendo para a lei” era possível “viver para Deus”.         
- verso 20: essa passagem tem sido muito querida pelos cristãos de todas as épocas, pois resume toda a mensagem do evangelho num aparente paradoxo: a verdadeira vida está em participar da crucificação de Cristo. Não no sentido literal, mas por meio da fé Nele, onde o mesmo torna-se senhor de tudo. Paulo está chegando a reta final desse impactante discurso sobre a justificação somente pela fé com uma mensagem do tipo: “sou tão indigno e sem méritos que, para poder viver, preciso estar morto em Cristo, pois Ele precisa viver em mim”. Cristo “viver” no cristão significa que, quando Deus olha para esse cristão, não o vê morto em delitos e pecados, mas vê Cristo santo e justo. Isso é justificação!
- verso 21: o que significa “fazer nula a graça de Deus”? Aplicando ao contexto da passagem e lembrando que Paulo estava dirigindo esse discurso aos que estavam presentes no conflito com Pedro, podemos concluir que significa algo assim: “se eu acreditasse que meus méritos poderiam conquistar boa situação diante de Deus eu faria nula a graça de Deus, e isso eu não faço!” Acreditar que somos merecedores de algo por parte de Deus tornaria a graça irrelevante e, por conseguinte, a morte de Jesus na cruz um ato totalmente desnecessário.

Portanto, a passagem analisada aqui finda o capítulo 2 expondo aos gálatas uma situação tensa, porém necessária, entre os dois apóstolos. Paulo não usa a situação no intuito de humilhar ou de sobressair a Pedro. O que estava em jogo era algo muito mais valioso que reputações, era a própria pureza do evangelho.






[1] HENDRIKSEN, Willian. Comentário do NT – Gálatas. São Paulo: Cultura Cristã. 2009.