Os esquecidos pelo caminho
Recentemente
encontrei uma colega cujo pai trabalhou como pastor de uma igreja local por
muitos anos. A igreja dele era vinculada a uma denominação muito grande, com
diversas outras igrejas coirmãs, todas vinculadas a uma igreja sede. Ao
questionar como estava seu pai, fiquei surpreso com a resposta: “papai está
afastado há anos, deixou o pastorado e hoje já não frequenta mais nenhuma igreja”.
Constrangido
pela resposta, tentei mudar o foco da conversa, mas ela continuou: “fico triste
pelo papai, mas também fico triste pela denominação. Nenhum dos outros
pastores, nem mesmo os que exerciam liderança sobre ele, jamais se importaram
de saber como ele estava. Nem mesmo uma ligação telefônica”.
Histórias
como essa se repetem em inúmeras outras comunidades cristãs ao redor do mundo. Pessoas
que passam pelas nossas igrejas, às vezes vivem intensamente a comunhão dos
santos (as vezes não), trabalham arduamente em prol do reino, mas, em
determinado momento, por circunstâncias diversas, se afastam da igreja e parece
que ninguém se importa com isso. São os esquecidos pelo caminho. Essa
indiferença, além de grotesca e completamente distante do amor de Cristo, tem
criado um exército de ressentidos com a igreja.
Não
estou aqui tentando atenuar a responsabilidade dessas pessoas de deixar a
igreja ou virar as costas para a fé. Não é isso. Cada um deve vigiar e permanecer
de pé (1 Coríntios 10.12). Todos prestaremos contas de nossos atos e
responderemos diante de Deus, sem ter o “privilégio” de apontar dedos para
ninguém.
Contudo,
como igreja, precisamos fazer uma “mea culpa” e entender que falhamos muito no
papel de dar atenção aos que estão fraquejando. Convido você a refletir: “quantas
vezes você já reparou que determinado(a) irmão(ã) tem faltado os últimos cultos
e decidiu ligar para saber como a pessoa estava?” ou “quantas vezes você se
juntou a um grupo de irmãos para visitar alguém que deixou de ir à igreja?”.
Parece
que hoje é muito mais fácil envolver-se com a organização do reino do que propriamente
com o reino em si. De que adianta sermos uma igreja repleta de programações,
com um louvor impecável, um lindo ministério de teatro, e um culto festivo, se,
quando um de nós se perde, não há ninguém suficientemente sensível para se
importar?
Inúmeros
pastores e líderes vivem cegos pelo desejo de ver suas igrejas crescerem,
renderem mais dízimos, se tornarem mais dinâmicas, etc...mas eles enxergam a
igreja como mera coletividade, esquecendo-se que ela é formada por indivíduos
que enfrentam, cada um, suas próprias guerras e, por isso, precisam do apoio
pastoral para sobreviverem.
Conheço
um amigo que passou muitos anos ocupando um cargo de liderança em sua igreja
local. Tentou dar o melhor de si e cuidar do rebanho que lhe foi confiado.
Devido a alguns problemas de convivência, se viu obrigado a deixar a liderança
e mudar de igreja. Durante o processo de transição, nenhum dos seus pastores
jamais o telefonou para saber: “está tudo bem”? Esse amigo ficou ressentido e
desabafou: “Poxa, passei tanto tempo cuidando dos outros, mas quando chegou a
minha vez, cadê minha ajuda?”. Pela graça de Deus, esse amigo permanece firme
na fé e a indiferença da igreja não o matou espiritualmente.
Porém,
nem sempre os finais são felizes assim, e não são poucos os ressentidos com uma
igreja local que demonstrou não se importar. Em Colossenses 3.13, Paulo diz: “suportando-vos
uns aos outros”. O termo usado por Paulo faz referência ao ato de “ser um
suporte” para outras pessoas. Ou seja, se estou fraco alguém será meu suporte
no momento de dificuldade. Um dia, chegará o momento em que eu “devolverei o
favor” e serei o suporte de outra pessoa. E assim caminha o povo de Deus.
A
igreja é o único hospital onde todos somos médicos e pacientes o tempo inteiro.
Em
Cristo,
Thiago
Holanda
27/02/2024