Recentemente participei de um culto em que o líder da igreja
estava ao microfone dando alguns avisos e, de repente, começou a defender uma
prática em sua denominação. Ele dizia: “Irmãos, não creio que pregação precisa
ser longa...pregação boa é pregação curta e cheia do poder de Deus!”
Até concordei em parte com o irmão, afinal, pregação
precisa, de fato, vir de um homem cheio do Espírito Santo. Tempo de duração do
sermão não é determinante para a qualidade espiritual de uma mensagem bíblica.
Contudo, passei a discordar quando este líder passou a “atacar” a ideia de
pregações longas, dando a entender que todas são desnecessárias e enfadonhas.
Confesso que comecei a ficar inquieto e, ao mesmo tempo, apreensivo com o tipo
de pregação que alimentava aquela congregação.
Mas este não é o clímax da história! O ponto alto se deu
quando um dos obreiros dessa igreja, demonstrando concordância com o que estava
sendo dito, disse em alto e bom som: “É isso mesmo! A Bíblia diz que não é pelo
muito falar...”. Cocei os ouvidos...será que ouvi certo? Não quero parecer
implicante, mas eu já estava diante de uma ideia estranha sobre pregação, a
última coisa que eu precisava ouvir, para discordar ainda mais de tudo
aquilo, era um versículo fora de contexto.
Note
que, provavelmente, o obreiro estava citando Mateus 6.7, que diz: E,
orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito
falarem serão ouvidos. O contexto desse verso é o Sermão da Montanha (que
começa em Mateus 5), onde Jesus dá várias instruções sobre a vida e conduta
cristã. Na passagem anterior (6.1-4), Jesus ensina sobre como se deve dar
esmolas. Logo após, fala sobre como se deve orar e, inclusive, nos é dado um
modelo de oração (6.5-13). Em seguida, temos instruções sobre como se deve
jejuar (6.16-18). Portanto, em nenhum momento o texto está falando sobre
pregação do evangelho no ambiente de igreja.
Além da minha admiração ao observar um obreiro
usando um verso fora de contexto, me veio à mente a seguinte reflexão: porque
essa implicância com pregações longas? Será que sentar na igreja e ouvir uma
pregação por uma hora é tão exaustivo assim? Será que os crentes cansam com a
mesma facilidade ao assistirem um filme de duas horas?
Já sei, já sei, já sei...você deve estar com
vários argumentos em sua cabeça: ‘tem pregação que não tem unção de Deus!’,
‘tem pregadores enfadonhos’, ‘não precisa disso tudo pra falar de Jesus’, blá,
blá, blá...reconheço a falta de zelo de vários pregadores em relação ao estudo
bíblico, bem como a deficiente vida de oração de alguns outros, e isso, de
fato, torna qualquer pregação um martírio. Mas isso deve ser resolvido com
ensino e imposição de critérios mais firmes no momento de entregar um púlpito a
um pregador. Reduzir o tempo de pregação por motivos de enfado é atacar a
consequência do problema, não a causa.
Não quero desmerecer sermões rápidos e reflexões
bíblicas curtas, mas existe um receio em meu coração quando vejo tantas igrejas
criticarem a duração dos sermões, mas se distraírem muito facilmente com outros
“santos entretenimentos” durante a liturgia.
Jonathan Edwards pregou o sermão mais famoso da
história, intitulado “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, e como não era
muito eloquente, costumava pregar lendo o seu manuscrito. Estimam que ele tenha
pregado por 40 minutos, até que precisou interromper o sermão, pois a
congregação estava tão cheia do Espírito Santo que as pessoas caíam no chão com
tanta convicção de pecado e clamavam ao Senhor por perdão.
É disso que precisamos hoje: homens que, como
Edwards, estejam dispostos a serem incendiados para, então, incendiarem outros!
Em Cristo,
Thiago Holanda.